29 junho 2011

A Parada é Gay?


Conquistas e frustrações fazem parte do cotidiano da comunidade gay no Brasil que dia após dia luta para garantir que seus direitos sejam colocados em prática. Nessa jornada, várias manifestações, protestos, caminhadas, beijos coletivos entre tantos outros feitos são realizados por esse grupo, no intuito de chamar a atenção da sociedade no que se refere aos problemas ainda vividos por eles, como o preconceito e a discriminação, ambos responsáveis pela inaceitação dos homossexuais no âmbito social. Desses movimentos, um em especial se destaca pela sua grandiosidade e, sobretudo pela visibilidade que ele oferece. Falo da Parada do Orgulho Gay, marcha de alegria e cores a qual invade ruas e avenidas dos grandes centros urbanos clamando por tolerância, justiça e respeito. Entretanto, esse evento é criticado pelo seu real caráter educativo, o qual, para alguns, está sendo descaracterizado paulatinamente.

Conscientização é a palavra de ordem, quase como uma oração, para os homossexuais brasileiros e é baseado nela que as Paradas Gays se proliferam pelo país. Unindo forças, LGBTTs de todos os tipos e faixas etárias distintas vão às ruas pedir não, clamar para serem aceitos e respeitados. No entanto, a forma como isso tem sido feito, para alguns, está prejudicando a luta pela aquisição dos direitos a essa classe. O principal argumento é que essa marcha perdeu o seu tom político e se tornou um carnaval fora de época, no qual aparecem homens seminus e travestis com os seios à mostra. De fato, tais atitudes acabam alimentando os rótulos emblemáticos que boa parte da sociedade insiste em taxar os homossexuais. Além disso, é lamentável saber que a maioria dos frequentadores desses eventos está ali, mas poucos sabem da conotação política e ideológica envolvida no movimento. E o pior, muitos desconhecem o próprio tema que está sendo focalizado pela Parada.

Por outro lado, são indiscutíveis os benefícios que a Parada Gay trás para o movimento LGBTT no Brasil. A cada ano mais e mais pessoas, muitos héteros por sinal, participam da caminhada da igualdade promovida pelos gays. Mesmo com o perfil semelhante de um carnaval fora de época, a Parada do Orgulho Gay conseguiu proezas inimagináveis, apenas levando centenas de milhares de pessoas as ruas. Primeiro a visibilidade homo, mostrando que a ideia de que os gays faziam parte de uma minoria é o mais absurdo de todos os argumentos, porque eles sempre estiveram, estão e continuarão presentes em várias esferas sociais. Segundo, a manifestação política sim, mesmo que não em sua totalidade, porém há uma conotação implícita de luta pelos direitos e a garantia deles, exigindo não só da sociedade, mas também dos nossos políticos, uma postura mais igualitária para com essa comunidade. E terceiro, a alegria pacífica desse grupo que, de forma transparente, enche de amor, afeto, dignidade, harmonia, companheirismo e tolerância as avenidas desse Brasil tão marcado pelo descaso e pela violência.

Vítimas da intolerância alheia e de uma cultura altamente heteronormativa, os gays travam uma batalha um tanto desleal contra o moralismo de um povo fincado em padrões obsoletos de sexualidade. Nessa guerra, eles acabam criando trincheiras para se defenderem de um povo que prefere discriminar a ter que incluir, rotular a ter que entender e crucificar ao invés de tolerar. Daí surge essas passeatas regradas a muita música, fantasias extravagantes, demonstrações calorosas de afeto, formando um arsenal de emoções um tanto fortes aos olhos dos mais conservadores. A intenção é literalmente dar um choque de realidade, mostrando explicitamente que os gays existem e que querem ser reconhecidos enquanto seres humanos iguais a qualquer um. O resultado disso é uma tapa sem mão dada nas faces daqueles que não aceitam a homossexualidade e ainda alimentam um discurso violento contra esse grupo que, como se sabe, só prega a paz, o amor e o respeito entre as pessoas.

Claro que esse movimento não pode perder a sua identidade política, uma vez que ela é crucial para que os obstáculos ainda presentes sejam ultrapassados. Por isso, é necessário que mais e mais gays fiquem antenados nas propostas escolhidas por cada Parada, para que o coro da igualdade soe cada vez mais forte e consiga penetrar nas mentes rochosas dos homofóbicos e de todos aqueles que furtam os direitos dos homossexuais. Em contrapartida, acredito na força que há na coletividade, na exposição da diversidade como armas fundamentais para desconstruir a visão tacanha alimentada por muitos sobre a homossexualidade. Então, o mais importante não é se a Parada do Orgulho Gay está se tornando ou já se tornou um evento carnavalesco, e sim, a visibilidade dos homossexuais, que estão enfrentando os seus temores e indo as ruas mostrar para a sociedade que existem gays SIM e eles são semelhantes a qualquer outro ser humano e por isso devem ter os seus direitos garantidos.

4 comentários:

  1. Diogo, parabéns pela forma de expressão do texto.
    A homossexualidade e os aspectos políticos e sociais da Parada Gay foram pontual e claramente expostos.
    Bjoks.

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  2. Clap Clap Clap ... muito boa a reflexão ... clara, consciente e crítica ...

    bjão

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  3. Bom texto! É mesmo assim como dizes amigo. A Parada Gay será sempre um evento político e a irreverência faz parte da contestação daqueles que fogem à regra normativa duma sociedade machista e prepotente.

    Beijos

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  4. Isso que você considera como desvios de objetivos do evento acontece em todas as manifestações coletivas, Diogo. Eu já participei em minha vida de inumeráveis manifestações e há os engajados e a turma do oba-oba. O que não se pode deixar é que o objetivo central perca seu foco. Muito bem fundamentado o seu texto, como sempre. meu abraço. paz e bem.

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