19 abril 2011

Hospital da Restauração passa a atender travestis e transexuais pelo nome social



O Hospital da Restauração será a primeira unidade de saúde pernambucana, e uma das pioneiras no Brasil, a estabelecer o uso do nome social de travestis e transexuais. Para isso, a unidade está realizando uma oficina sobre o tema, destinada a todos os setores funcionais do HR. A sensibilização teve início hoje (13/04) e continuará amanhã (14), a partir das 14h. A medida visa humanizar o atendimento no HR e, também, colocar em prática o que já está previsto por lei, a partir do decreto estadual nº 35.051, em vigor desde maio de 2010.

O uso do nome social, escolhido pelo indivíduo para adequar-se à sua nova construção identitária, é uma das bandeiras mais importantes defendidas pelos travestis e transexuais. Para quem não está familiarizado com a questão, pode parecer irrelevante; no entanto, a forma como se é chamado está diretamente ligada à imagem que cada ser humano faz de si e mostra à sociedade. Por ignorância ou preconceito, muitas pessoas se negam a isso, insistindo em usar o nome de registro. A partir do decreto, ter seu nome reconhecido passou a ser um direito. “Essa oficialização é mais um passo em direção ao respeito a nossa identidade de gênero”, afirmou a vice-coordenadora da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans), Patricia Gomes.

“Como é lei, chamar-me pelo meu nome não é mais um favor que me fazem, é um direito meu”, acrescentou a técnica de enfermagem Elaine Fênix Silva, que é travesti e funcionária do HR há mais de dez anos. Extremamente querida e respeitada, Elaine arrancou aplausos do auditório, relembrando que o processo de adequação de suas características físicas e psicológicas se deu quando já estava trabalhando no HR. “Aqui aprofundei meus valores morais e éticos e pude provar que ser travesti não é algo ligado apenas a escândalos, ao silicone, ao sexo. Sou uma profissional, um ser humano, e me orgulho de tudo o que sou”, afirmou.

Na avaliação do assessor em Diversidade Sexual do Governo de Pernambuco, Rildo Veras, é preciso que haja um trabalho de conscientização, especialmente junto das áreas de saúde e educação, onde os travestis e transexuais se sentem mais desrespeitados. “É um desafio divulgar a lei, fazê-la sair do papel. O decreto precisa ser posto em prática e isso só se consegue a partir do momento em que as pessoas ficam sabendo que este é um direito”, avaliou ele, que ficou extremamente feliz com o comparecimento e receptividade do público interno do hopsital. “A nova gestão do HR está sensível a essa demanda e disposta a colocar em prática esta e outras leis que venham a melhorar a qualidade e a humanização no atendimento”, afirmou o assessor médico da direção, Hélio Calábria.

Maior emergência do norte e nordeste, o HR é um local onde se registram, com freqüência, casos de travestis e transexuais que sofreram agressões (uma triste realidade, devido à homofobia e às situações de risco que algumas dessas pessoas acabam enfrentando) ou que sofrem de complicações vasculares, por causa dos hormônios e silicone que utilizam de forma inadequada em seu processo de recriação corporal. Assim, é um marco importante que a ação esteja ocorrendo no hospital, e que o uso do nome social possa ser efetivado tanto no caso de pacientes como no de funcionários. “Nossa intenção é que esse processo se expanda para outros ambientes. A diversidade sexual é um tema transversal importante quando se pensa na saúde, na educação, na cultura. E eventos como este são imprescindíveis para que se possa entender e respeitar os cidadãos em sua diversidade”, concluiu Rildo Veras.

Cerca de cem pessoas participam das oficinas, no auditório do HR, com a participação de representantes do Fórum de Lésbicas, Bissexuais e Travestis de Pernambuco, da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans), da Assessoria Especial para Diversidade Sexual do governo estadual e da Secretaria Municipal de Direitos Humanos.

Do site Viva Pernambuco

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