22 fevereiro 2011

Crítica - Cisne Negro


Diz-se que o cinema é o equilíbrio perfeito entre o real e o irreal. Que as imagens em movimento emprestam uma dose perfeita de realidade à fantasia que é a sétima arte. Mas o arrebatamento que alguns filmes causam, nos faz repensar esse equilíbrio, fazendo-nos considerar a hipótese daquela história estar acontecendo exatamente naquele momento em que estamos assistindo. Somos tocados pelos acontecimentos, sentimos o que os personagens sentem, vemos o que eles veem, da maneira que eles enxergam o mundo... E isso, nenhum recurso 3D consegue superar: essa experiência de ser capturado pela ficção, de se entregar à sua verdade irreal!

O novo longa de Darren Aronofsky, de O Lutador (2008), tem essa capacidade de colocar o espectador na pele da personagem principal, Nina, vivida por Natalie Portman, de Entre Irmãos (2009). E, de cara, já deixa suspenso no ar uma pergunta perturbadora: o que há além da perfeição, se o que é perfeito está acabado? Se a perfeição é a exclusão dos defeitos, das imperfeições, ser perfeito parece algo muito diferente de ser humano. Como não sofrer tentando não ser humano? Como não se ferir na busca obsessiva por superar os próprios limites?

Nina sofre. Sofre porque se sente o tempo todo incapaz de ser perfeita, embora empregue todo seu tempo e energia na tentativa de sê-lo. E, se considerarmos sua ocupação de bailarina, o seu sofrimento parece ainda maior. O balé, com sua disciplina rigorosa e a constante busca da perfeição, acaba se configurando como um cenário cruel para Nina. Na expectativa de conseguir a posição de destaque na companhia de balé para interpretar o cisne branco e o cisne negro, Nina se leva e nos leva ao extremo. E sua mãe, Erica Sayers (Barbara Hershey), é uma ex-bailarina que mais parece a carrasca da filha, mantendo-a num universo maternal e de um controle perverso, colaborando para as obsessões e perda da noção de realidade sofridas pela filha.

Nina apresenta sinais de distúrbios alimentares, autoflagelação e delírios, exibindo uma personalidade controladora, tensa e instável. Ela trava uma relação doentia até com a ex-bailarina principal, Beth Macintyre (Winona Ryder em participação especialíssima), por se sentir culpada ao substituí-la. Nina está sufocando, nós vamos juntos ao longo do filme. Os personagens do ótimo Vincent Cassel (Thomas Leroy) e de Mila Kunis (Lily), tentam trazer Nina para a realidade por intermédio do erotismo e do prazer, mas acabam por confundir ainda mais a bailarina, potencializando as suas paranoias.

Cisne Negro já deixa claro, na sua sombria e poderosa sequência inicial, que trata-se de uma história perturbadora. O reflexo do rosto de Nina no vidro do metrô, os closes dos pés maltratados pela dança, suas terríveis alucinações, sua angústia... Tudo faz de Cisne Negro um exemplar de terror psicológico de muita qualidade, dirigido com competência e povoado por personagens densos e inquietantes, com destaque para Natalie Portman, que se entrega física e emocionalmente ao personagem, de tal forma que nos oferece uma sensação incomodamente intensa de que Nina é real.



Por: Mônica Lobo

13 comentários:

  1. excelente visão
    obrigado por compartilhar conosco querido

    beijos

    ResponderExcluir
  2. tenho costume de sempre assistir os filmes que concorrem ao oscar, mas esse em particular não gostei nem um pouco, a história não me convenceu.
    bjos

    ResponderExcluir
  3. existem na verdade momentos únicos em que somos transportados para a tela ou para o palco, mas também tem haver com a nossa identificação a esses personagens, como nós nos sentimos perante a vida e o que ela retracta
    bjs

    ResponderExcluir
  4. Eu amei esse filme.Nota 10.Natalie Portman merece o Oscar.
    Beijos.

    ResponderExcluir
  5. Nunca, em circunstância nenhuma, devemos levar a obsessão, nossa ou dos outros, a tomar por completo as rédeas do nosso destino.
    Óptimo texto!

    Beijos, querido

    ResponderExcluir
  6. Passei para dizer que te adoroooo e que estou morrendo de saudades.
    O filme eu vou assisti-lo, depois te falo ta
    Beijossssssss meu lindo

    ResponderExcluir
  7. Houve um tempo que eu queria que minha filha mais nova fosse ginasta. Mas acho que esta realidade da busca da perfeição delas e das bailarinas em geral, destroem uma vida inteira. Ainda mais que, na maioria das vezes essas pessoas estão cumprindo um desejo que sequer é seus de verdade. Normalmente é da mãe, pai ou algum parente ou assemelhado. Viram escravas da perspeciva. Vou ver esse filme. Obrigado pela bela resenha, Diogo! Meu abraço. paz e bem.

    ResponderExcluir
  8. Faz parte da dança, a busca pela perfeição...O filme deixa bem claro a disputa pelo papel principal e isso é o que realmente ocorre na realidade, desde as pequenas companhias até as grandes internacionais. E isso tudo, nos deixa loucos pela perfeição...a perfeição é algo que nos fascina.
    Já assistir o filme, 03 vezes e sempre lembrando da minha época como bailarino....dancei durante 11 anos.
    Mas, o tempo é cruel com os bailarinos e sempre existirá outros prontos para fazer nossa substituição.

    Abração.

    ResponderExcluir
  9. ola...
    tem mimo pra vc nesse link..

    http://andreyawilsimar.blogspot.com/2011/03/carinhoafago-gostosura-no-coracao.html

    beijos...

    ResponderExcluir
  10. Olá meu anjo amigo! Amado, vim te ver, te ler, pra matar um pouquinho dessa imensa saudade que sinto de ti... Sinto sua falta meu amigo... Espero não te-lo magoado sem me aperceber... Te gosto muito, viu?
    Deixo carinhos pra ti... Bjsss

    ResponderExcluir
  11. Boa noite, Diogo.

    Como você replicou esta matéria do Cinema na Rede sem autorização, solicito que retire este post do ar ou insira um link que direcione à publicação original (http://www.cinemanarede.com/2011/02/critica-cisne-negro.html)

    Aguardo resposta.

    ResponderExcluir
  12. Olá Mattheus!

    Confesso q fiquei surpreso com o seu comentário lá no meu blog, pois eu não tive, e nem tenho, a intenção de republicar qualquer post no meu blog sem fazer menção a fonte do qual ele foi retirado.

    Na verdade, no caso do post sobre o Cisne Negro, eu o recebi por um email de um amigo, com a autoria de Mônica Lobo, informação esta que aparece claramente no fim do post em baixo do trailer do filme.

    Mesmo assim, para evitar mais transtornos, farei o que você me pediu, reiterando que não tive a intenção de retirar os créditos da sua página, a qual eu não conhecia e confesso que gostei muito. Apenas li o texto na minha caixa de email e, como muitos outros, resolvi compartilhá-lo no meu blog.

    Peço, humildemente as minhas desculpas e farei as devidas alterações ainda hj OK?! bjoxxxxxxxxxxxxxxx no coração!

    ResponderExcluir
  13. Oi, Diogo.

    Recebi seu retorno.

    Obrigado pela atenção.

    Grande abraço e sucesso!

    ResponderExcluir