O consumo de ervas alucinógenas remonta desde eras imemoriais, onde elas eram usadas para cultuar divindades nos quais os seus seguidores tinham que estar entorpecidos para alcançar um estado de graça. O tempo evoluiu, mas o consumo das drogas não mudou assim bruscamente. Na Índia, há mais de 2.000 anos, elas eram utilizadas para encorajar tropas a combaterem destemidamente os seus adversários até a morte. Nas civilizações pré-colombianas, elas também eram usadas para fins medicinais e religiosos. Em todos esses períodos elas foram vistas como algo transcendente que levava os indivíduos para outra realidade. Por tudo isso, em muitos momentos foram consideradas como a própria personificação de um ser divino, algo sobrenatural.
A sensação de fuga da realidade continua, mas o que mudou foi o perfil dos seus usuários. Não há mais aquela adoração por divindades e o seu manuseio, o das drogas, está restrito a grandes laboratórios controlados por leis rígidas. Todo esse aparato legal, no entanto, não impediu que o homem burlasse todas as normas para continuar degustando dos prazeres que elas proporcionam. Isto porque a comercialização ilegal empurrou as drogas para a vala da criminalização, na qual todos aqueles que as consumem são classificados como transgressores sociais. Falar sobre elas, portanto, é enfrentar um arsenal de preconceitos e de opiniões controversas, muitas vezes propagadas por ecos de inverdades.
Dividido por essa linha tênue entre o certo e o errado, o que pode e o que não pode, entre o mito e a verdade, eu resolvi entrevistar um usuário de drogas, para que ele me ratificasse algumas informações, ou retificasse aquelas que eu desconhecia. O seu nome verdadeiro não será revelado, porém usaremos um nome fictício para nortear a entrevista. Chamaremos de “José”. Ele é estudante universitário, do curso de história, e gentilmente concordou em tirar as minhas dúvidas sobre esse assunto:
Eu: Você consegue usar drogas todos os dias?
José: SIM
Eu: Como?
José: Para mim virou algo rotineiro, como comer e tomar água. Algo vital.
Eu: Quantas vezes você usa drogas por dia, semana e mês?
José: Eu uso apenas maconha e costumo comprar cerca de 500g dela por mês e a divido em três porções diárias.
Eu: Qual é o efeito que ela lhe causa?
José: Sinto uma sensação de prazer indescritível, uma leve percepção de bem-estar, leveza. Em contrapartida sinto uma aura de letargia, com movimentos lentos e limitados.
Eu: No meio de todo esse frisson, como você consegue assistir as aulas da faculdade e, sobretudo absorver o que está sendo apresentado?
José: A pesar da sensação letárgica, há uma amplitude na questão do aprendizado. Parece que os conceitos, teorias são melhores assimilados pelo cérebro.
Eu: Em sua opinião, é verdade que as pessoas que iniciam usando maconha SEMPRE procuram drogas mais fortes?
José: Não. Isso é uma questão do perfil de cada usuário. Quem usa maconha procura um tipo de sensação especifica. Do mesmo modo, quem usa cocaína procura essa mesma sensação sendo que mais forte e duradoura. O que vai variando de acordo com cada usuário. Isso é muito relativo.
Eu: Ainda sob o seu ponto de vista, é verdade que os usuários SEMPRE roubam por estarem sob efeito de drogas?
José: Não. Apesar do entorpecimento que ela me causa, eu consigo perceber a realidade a minha volta. Fico ciente de tudo o que está acontecendo. O que ocorre é uma questão social, uma vez que muitas pessoas não conseguem manter o seu vício e optam por roubar.
Eu: Você conseguiria parar de usar maconha se quisesse?
José: Após alguns segundo de reflexão ele disse que sim.
Eu: Você, em algum momento da vida, precisou de um acompanhamento profissional?
José: Não. Os médicos não têm o conhecimento necessário para entender o real efeito que a droga causa no nosso organismo.
Eu: Você é a favor da Liberalização da maconha? Por quê?
José: Sim. Acredito que só a legalização da maconha impedirá o crescimento da marginalização na sociedade, visto que temos que ir a locais escusos (morros, favelas) para conseguir comprar a droga. Com isso, estamos alimentando a manutenção do tráfico de drogas que, consequentemente financia outros problemas que assolam a sociedade.
Eu: Então, em sua opinião, como a sociedade reagiria hoje, se a maconha fosse legalizada? Ela está preparada para isso?
José: Infelizmente a sociedade não está plenamente preparada, pois acham que o individuo que usa drogas não tem mais cura. Com isso, acaba gerando os atuais problemas ligados a marginalização. O que falta é uma conscientização mais abalizada sobre esse assunto, para tentar desconstruir alguns mitos que insistem em segregar os usuários das pessoas “normais”.
Conceituar os malefícios que as drogas acarretam sob o prisma do juízo comum é limitar a extensão da problemática que envolve esse tema. Isto porque, é muito natural ouvirmos opiniões taxativas e, sobretudo pejorativas, no intuito de classificar o seu efeito como unicamente nocivo, o que na medicina não há uma informação precisa que confirme isso. Evidentemente que o seu uso exacerbado, como qualquer outra coisa, poderá causar possíveis danos, de acordo com freqüência e o modo.
Dessa forma, a entrevista concedida por esse rapaz serviu não somente para elevar a droga para um patamar benéfico, mas para esclarecer que em cada pessoa ela funciona de uma maneira diferente. Eu, particularmente, não sou a favor da legalização da maconha, pois penso que o Brasil não tem uma estrutura cultural para abarcar a liberalidade desse entorpecente. Enquanto não ampliarmos as mentes das pessoas para uma discussão mais aprofundada sobre essa temática, dificilmente chegaremos a um denominador comum.
Mesmo assim, deixo claro que a idéia central da entrevista, bem como do texto que a segue, não tem como intuito persuadir ou fazer apologia ao uso de quaisquer drogas. Apenas quis mostrar a opinião do outrem sob uma perspectiva menos marginalizada. Em nenhum momento desconsidero os males que o uso excessivo das drogas possa acarretar, pois infelizmente eles existem e estão fazendo a suas vitimas.
Veja onde a maconha está prestes a ser legalizada AQUI
Querido Diogo!
ResponderExcluirEsse comentário nada tem haver com o post acima, apesar dele ser super interessante e ter atraido minha atenção.
Mas o que quero mesmo é lhe agradecer pela visita e pelo comentário elogioso no meu blog ao post sobre a vida marinha.
Aproveito também para lhe parabenizar! Menino, que coisa mais linda esse seu template. Te confesso, um dos mais atraentes layouts que eu conheci na blogosfera, e olha que eu ando por ela.
Parabéns, mesmo.
Abraços do seu mais novo seguidor.
Milton (http://postsabeiramar.blogspot.com)