Segundo pesquisa recente divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Curitiba é a terceira capital brasileira com maior registro de casos de bullying. De acordo com o estudo, 35,2% dos estudantes entrevistados afirmaram ter sido vítimas de agressões (físicas e psicológicas), ameaças, humilhações e outras ações perversas que caracterizam o problema.
No ranking nacional do bullying, a capital paranaense está à frente de grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, ficando atrás somente da primeira colocada, Brasília, com 35,6% dos casos, e da segunda, Belo Horizonte, com 35,3% das ocorrências.
Os índices apresentados ligaram o sinal de alerta na cidade. Tanto que dois vereadores de partidos opostos (um de apoio e outro de oposição ao prefeito) uniram-se para criar um projeto de lei para combater o bullying na rede de ensino, tanto pública quanto particular. A proposta, aprovada mês passado pela Câmara Municipal, prevê o cadastramento e o acompanhamento psicológico de autores e vítimas do bullying, entre outras medidas socioeducativas.
Os vereadores Mario Celso Cunha (PSB) e Pedro Paulo (PT) falaram ao portal sobre a nova Lei Antibullying e sobre como ela pode ajudar no combate ao problema. Confira a entrevista.
O bullying é hoje um problema mundial. Na sua opinião, onde está a raiz desse problema? Na educação que a criança/o adolescente recebe em casa ou na falta de uma ação mais efetiva do poder público? Mario Celso Cunha – Eu diria que falta informação. Essa desinformação vem culturalmente, de muitos anos, e muitas crianças que sofriam esse tipo de assédio, esse tipo de violência, não sabiam o que estava acontecendo, achavam que eram vítimas de um grupo de pessoas. Com isso, afastavam-se da escola, escondiam-se, tornavam-se péssimos alunos, que não prestavam atenção nas aulas. Fora do colégio, socialmente, ficavam reclusas, trancadas em casa. E muitas vezes, os pais não sabiam o que estava ocorrendo, achavam que tais crianças eram preguiçosas, rebeldes, e na verdade era o bullying, que hoje se tornou conhecido internacionalmente por meio de casos que aconteceram nos Estados Unidos e que tiveram repercussão mundial. Como surgiu a ideia da Lei Antibullying nas escolas de Curitiba? Foi baseada em alguma outra lei já existente no País? Pedro Paulo – Exatamente. Nós temos uma experiência positiva no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro de combate ao bullying nas redes municipais de educação. Propusemos o mesmo aqui, claro que adaptando à nossa realidade. O importante é que esse enfrentamento seja feito onde há maior ocorrência de bullying, que é nas escolas. Nós queremos o atendimento às vítimas e também o acompanhamento dos agressores. Qual o principal objetivo da Lei Antibullying nas escolas de Curitiba? Mario Celso Cunha – O principal objetivo é a prevenção. Fazer um cadastramento das pessoas que praticam bullying, das que são vítimas desse tipo de agressão, e, principalmente, abrir uma porta para que sejam feitas as denúncias. Sem medo, sem perseguição, sem pressão. Que as vítimas denunciem, pois só assim nós acabaremos com o bullying. Que papel os pais e os professores podem desempenhar no sentido de combater o bullying na escola e conscientizar os alunos sobre o problema? Mario Celso Cunha – Reuniões pedagógicas com terapeutas, psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais. Enfim, reuniões com pessoas que entendam o problema e já o tenham vivenciado, bem como com vítimas ou do bullying moral ou do bullying físico, e que possam também expressar isso em reuniões permanentes com as escolas, para que todos possam saber o que está acontecendo. Essas reuniões terão a participação de diretores. Depois, serão feitos relatórios, posteriormente encaminhados às respectivas secretarias do Estado e do Município. Em relação à vítima, que procedimento ela deve tomar quando começa a sofrer o bullying? Pedro Paulo – É importante que a família esteja atenta a mudanças em relação ao comportamento habitual dos seus filhos ou ao fato de apresentarem irritação frequente. Pode ser que estejam sendo vítimas de bullying. E aí nós queremos que a escola seja um espaço onde não apenas se identifica a violência, mas também se trata o problema, encaminham-se as vítimas para o acompanhamento psicológico, assim como os agressores, porque eles também precisam de tratamento, até porque ninguém nasce violento. Os hábitos de violência são adquiridos na convivência. Então, aquele sentimento de intolerância em relação às diferenças, a gozação que se faz com o adolescente porque ele é mais gordinho, porque ele é de um jeito ou de outro, por sua religião, enfim, tudo isso gera conflito. O importante, como eu disse, é a identificação do problema, para que tanto vítima quanto agressor possam ser atendidos. Pesquisa recente divulgada pelo IBGE apontou que Curitiba é a terceira capital com maior número de ocorrências de bullying no Brasil. Como esse dado pode ajudar no combate ao problema e em medidas de conscientização? Mario Celso Cunha – Esses são dados oficiais. Mas agora, extraoficialmente, nós temos números bem maiores. Isso acontece todo dia, não só em escolas municipais e estaduais, mas também em clubes, organizações, entidades. O bullying está presente em vários setores da sociedade. Por isso é que esse dado mostra-se tão expressivo. E só combatendo, só prevenindo, só denunciando é que nós colocaremos realmente um freio nessa crescente ação de bullying. Como a Cartilha Antibullying, lançada recentemente pelo Conselho Nacional de Justiça, pode ajudar no combate a esse grave problema? Pedro Paulo – Ela é fundamental, porque sem conhecer o problema e sem ter informações sobre ele, é difícil até identificá-lo. Então, essa cartilha vem em um bom momento. É sinal também de que essa situação não é isolada. Trata-se de um fato mundial e nacional, e nós precisamos combatê-lo. E a melhor forma de enfrentá-lo é conhecendo-o, obtendo informações a respeito. Por isso, nós queremos inclusive reproduzir essa cartilha em nível municipal, anexando-a ao projeto de lei, para que essas informações sejam democratizadas, de modo que as pessoas possam conhecer esses casos e que cada uma, dentro da sua família, da sua escola, da sua igreja e na sua roda de amigos, possa debater o problema e combatê-lo. O bullying está se expandindo para o mundo virtual, no que chamamos de ciberbullying. Que medidas podem ser tomadas para conter o problema via Internet? Pedro Paulo – O ciberbullying também exige que as famílias acompanhem, de certa forma, o que os seus filhos fazem na Internet. Isso porque eles podem estar sendo tanto vítimas quanto autores de bullying. Daí a importância do acompanhamento. E na escola, deve-se orientar também como utilizar de forma positiva esse poderoso instrumento que é a rede mundial de computadores. Raio X do bullying no Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário