CUIDAR DO BRASIL
Cristovam Buarque
Os governantes jamais usam o verbo cuidar (do país, do estado ou do município), sempre dizem administrar. Essa divergência na linguagem faz a diferença na maneira como a coisa pública é tratada. Ninguém diz administrar a família. Pode-se até administrar a casa, mas da família, cuida-se.
Um presidente precisa cuidar de seu país, não apenas administrá-lo. Uma nação, como uma cidade, é um ente frágil; um descuido durante um governo, e dezenas de anos serão necessários para consertar. Como uma criança que, não recebendo cuidados no momento certo, perde a vida ou perde-se na vida.
Administrar é enfrentar problemas fria e tecnicamente; cuidar é atender o próprio povo com respeito, ética e carinho, se possível antes de o problema acontecer.
Administrar a moeda é conseguir a estabilidade monetária; cuidar da moeda é manter o poder aquisitivo de todos os trabalhadores. O Plano Real conseguiu controlar a inflação, mas ao custo de desemprego e de redução nos salários. Administrou, mas não cuidou.
Administrar meninos de rua pode ser prendê-los nas Febens depois que eles cometem crimes; cuidar deles é garantir escola, saúde e apoio para que não sejam meninos de rua.
Administrar é enfrentar o problema; cuidar é não deixar que ele ocorra.
Administrar a agricultura é aumentar a produção; cuidar é acabar com a fome. O atual governo está enfrentando, tentando administrar - e mal - os sem-terra; cuidar deles seria resolver o problema da concentração na propriedade da terra, superar a injustiça de cinco séculos.
Administrar a economia é retomar o crescimento; cuidar dela é fazer com que produza para erradicar a pobreza, para aumentar a qualidade de vida e para ser ecologicamente sustentável.
Administrar a ecologia é cercar florestas e apagar os incêndios; cuidar é mudar o modelo econômico para incorporar a natureza como parte da riqueza da civilização.
Administrar a dívida pública é conseguir um saldo orçamentário para poder pagar aos bancos; cuidar dela é não esquecer as outras dívidas, com os sem-emprego, sem-teto e sem-terra. E cuidar para que o pagamento aos bancos não seja feito ao custo da educação, da saúde, do futuro.
Administrar é ter uma lei de responsabilidade fiscal; cuidar é acrescentar uma lei de responsabilidade social.
Os governos, de formas diferentes, procuram administrar o país, mas não levam em conta que, por trás do conceito de país, há um mundo de gente, com nome, carteira profissional e de identidade, com um presente e um futuro.
No próximo mês, 5,6 mil novos prefeitos assumirão a administração de nossas cidades. Poucos estão pensando em assumir a responsabilidade de cuidar delas, com o carinho que seus habitantes precisam. Administrar bem a cidade é conseguir que as escolas abram nos dias e horas certas; cuidar das crianças é ter o nome de cada uma delas no gabinete do prefeito, tomar as medidas para que as escolas não apenas estejam abertas, mas as crianças contentes e aprendendo.
Quando lê no jornal que um menino foi atropelado no centro da cidade, ou morto em uma rua, o prefeito toma conhecimento de uma estatística. Quando chega em seu gabinete, encontra o nome dela e tem que "deletar" por causa da morte, sente a proximidade e a responsabilidade de um parente próximo. Ele muda da informação para o luto, da administração para o cuidado.
Um país pode mudar nas mãos de um presidente ou de 5,6 mil prefeitos. Ainda faltam dois anos para termos um novo governo nacional. Até lá, os novos prefeitos podem iniciar a grande mudança que o país precisa. Não importa o partido ou a ideologia, importam a emoção e a ética na relação com o povo. Importa a linguagem com a qual se relacionarão com seus povos: se vão apenas administrar a cidade - friamente - ou se, além, vão cuidar da grande família que os elegeu. Começando pelas crianças. No lugar de tê-las como simples números distantes que incomodam e exigem, importa tratá-las como próximas a serem cuidadas.
Um presidente precisa cuidar de seu país, não apenas administrá-lo. Uma nação, como uma cidade, é um ente frágil; um descuido durante um governo, e dezenas de anos serão necessários para consertar. Como uma criança que, não recebendo cuidados no momento certo, perde a vida ou perde-se na vida.
Administrar é enfrentar problemas fria e tecnicamente; cuidar é atender o próprio povo com respeito, ética e carinho, se possível antes de o problema acontecer.
Administrar a moeda é conseguir a estabilidade monetária; cuidar da moeda é manter o poder aquisitivo de todos os trabalhadores. O Plano Real conseguiu controlar a inflação, mas ao custo de desemprego e de redução nos salários. Administrou, mas não cuidou.
Administrar meninos de rua pode ser prendê-los nas Febens depois que eles cometem crimes; cuidar deles é garantir escola, saúde e apoio para que não sejam meninos de rua.
Administrar é enfrentar o problema; cuidar é não deixar que ele ocorra.
Administrar a agricultura é aumentar a produção; cuidar é acabar com a fome. O atual governo está enfrentando, tentando administrar - e mal - os sem-terra; cuidar deles seria resolver o problema da concentração na propriedade da terra, superar a injustiça de cinco séculos.
Administrar a economia é retomar o crescimento; cuidar dela é fazer com que produza para erradicar a pobreza, para aumentar a qualidade de vida e para ser ecologicamente sustentável.
Administrar a ecologia é cercar florestas e apagar os incêndios; cuidar é mudar o modelo econômico para incorporar a natureza como parte da riqueza da civilização.
Administrar a dívida pública é conseguir um saldo orçamentário para poder pagar aos bancos; cuidar dela é não esquecer as outras dívidas, com os sem-emprego, sem-teto e sem-terra. E cuidar para que o pagamento aos bancos não seja feito ao custo da educação, da saúde, do futuro.
Administrar é ter uma lei de responsabilidade fiscal; cuidar é acrescentar uma lei de responsabilidade social.
Os governos, de formas diferentes, procuram administrar o país, mas não levam em conta que, por trás do conceito de país, há um mundo de gente, com nome, carteira profissional e de identidade, com um presente e um futuro.
No próximo mês, 5,6 mil novos prefeitos assumirão a administração de nossas cidades. Poucos estão pensando em assumir a responsabilidade de cuidar delas, com o carinho que seus habitantes precisam. Administrar bem a cidade é conseguir que as escolas abram nos dias e horas certas; cuidar das crianças é ter o nome de cada uma delas no gabinete do prefeito, tomar as medidas para que as escolas não apenas estejam abertas, mas as crianças contentes e aprendendo.
Quando lê no jornal que um menino foi atropelado no centro da cidade, ou morto em uma rua, o prefeito toma conhecimento de uma estatística. Quando chega em seu gabinete, encontra o nome dela e tem que "deletar" por causa da morte, sente a proximidade e a responsabilidade de um parente próximo. Ele muda da informação para o luto, da administração para o cuidado.
Um país pode mudar nas mãos de um presidente ou de 5,6 mil prefeitos. Ainda faltam dois anos para termos um novo governo nacional. Até lá, os novos prefeitos podem iniciar a grande mudança que o país precisa. Não importa o partido ou a ideologia, importam a emoção e a ética na relação com o povo. Importa a linguagem com a qual se relacionarão com seus povos: se vão apenas administrar a cidade - friamente - ou se, além, vão cuidar da grande família que os elegeu. Começando pelas crianças. No lugar de tê-las como simples números distantes que incomodam e exigem, importa tratá-las como próximas a serem cuidadas.
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