01 maio 2018

Carta Suicida - Por Thalia Mendes Meireles



Eu sei que a decisão que eu tomei foi totalmente desqualificada e imoral. Quem diabos é para tirar a própria vida? Mas eu posso dizer uma coisa: Pra que serve o livre arbítrio? A vida é minha, a essência é minha. Respeitem.

As pessoas passam a vida inteira julgando tudo que veem. Jogam palavras que não voltam, olhares que machucam, rejeitam, maltratam, usam. Isso dói, tá legal? O ser humano vai guardando isso dentro de si até formar uma grande bola prestes a explodir. Você pode ver uma pessoa sorrindo, parecendo feliz, mas não se engane, sempre há coisas além. Por isso somos cegos. Nunca vemos além.

Aquela menina sentada de cabeça baixa tá precisando de ajuda. Mas o que as pessoas fazem? “Fulana está na bad”. Que sociedade maldita. Como se tristeza fosse algo irrelevante, que não precisa de atenção. Idiotas. Quando é tarde eles se perguntam o que tinha de errado. Pais que não veem seus filhos se cortando, se drogando, se destruindo. Escolas que não veem o bullying debaixo do seu nariz. Pais que estrupam os filhos, mães que humilham, irmãos que rejeitam. Malditos. Malditos.

Tudo isso acima faz a mente humana enlouquecer, sabia? Ela definha, fica angustiada e cheia de coisas inexplicáveis, pensamentos perigosos. Você vê no jornal aquele jovem que matou inúmeros estudantes e julga. Já parou pra pensar o que levou ele fazer aquilo? Será que não foi a hipocrisia e idiotice da sociedade? Essa sociedade que nos coloca em um lugar durante anos, em total humilhação e depois quer escolher um futuro pra nós. Ninguém nunca vê. Até que é tarde.

Eu não queria morrer. Eu penso que tenho um futuro pela frente. Eu sei que tenho.
Tenho mais amigos para fazer, mais músicas para escutar, mais pessoas para namorar, mais shows para ir. Tanta coisa. Mas sabe o que eu e outras milhões de pessoas pensam sobre isso? “Eu não tenho força de vontade para continuar. Eu não sou forte, eu não consigo seguir em frente sem derrubar mais uma lagrima”. Sejam mais gentis, por favor. Amem mais, ajudem mais, veem mais, peguem na mão de pessoas que estão se afogando. Dê sua mão. Dê um sorriso.

Eu tenho inúmeros motivos para ter feito o que fiz. Meu próprio pai me abusou e foi por isso que eu morri por dentro. Eu fui morrendo durante dois anos. Fui vendo minha morte sem poder fazer nada a respeito. Quantos cortes eu não fiz? Eu até apelei a drogas, o que não resultou em nada. Meu pai iniciou a destruição. Minha mãe me tirou minha rotina e passou a assistir tudo em total inconsciência. Eu sei que ela via, mas quem disse que ela percebia? Ela era uma mãe tão atenciosa, o que aconteceu? Porque ela ficou tão alheia? Porque ela demonstra amar mais a meu irmão? Porque ela não me ama? Porque ela não me abraca e me beija assim como ela faz com meu irmão?

Porque ela me humilha por causa de um erro tão pequeno? Porque ela não pergunta como foi meu dia na escola? Porque ela não quer saber o motivo de eu estar tanto tempo trancada no quarto? Porque ela não pergunta o motivo de eu usar tanta blusa de manga comprida? Ela ta deixando eu morrer sem fazer nada. E eu não quero as lágrimas de meus pais. Eu sentiria nojo delas. Eu sentiria nojo porque eu passei a odiar meu pai e odiar minha nova mãe. Porque eu ainda amo aquela mãe que me abraçava e me beijava. É como se ela não me amasse mais porque fui usada pelo meu pai, como se ela sentisse nojo de mim.
Sim, ela sabe do abuso, mas jogou pra debaixo do tapete. Assim como aquela maldita escola em que eu passei os piores momentos da minha vida. Eu já tentei suicídio outras vezes. E isso e é horrível, porque eu já sei a sensação. Pensar em suicídio é uma coisa, mas planejar e ir no ponto é outra. Dá aquele aperto no peito, aquela sensação de frio na barriga. “O que acontecerá depois disso?” Eu não acredito em deus, eu creio que depois disso não há nada. Mas enfim, fazer isso é difícil. Eu sou muito covarde. Eu irei deixar muita coisa no mundo e o mundo ira perder muita coisa. Eu sou diferente. Eu sou uma daquelas pessoas que os outros precisam.
            
               Às vezes acho que sou hipócrita porque eu vejo pessoas depressivas e vou ajudar, dar conselhos,  tirar a pessoa daquela situação. Mas eu não faço isso comigo. Porque não dá mais. Droga, eu queria tanto ficar aqui. Porque ninguém me ajudou antes? Ontem vi pessoas dizendo que a série 13 reasons why influência jovens a se suicidarem. Mas eu não acho isso. Eu Estava planejando tirar minha vida a meses e essa serie só fez eu parar e pensar: Estou prestes a fazer algo muito idiota”. Sim, eu tinha desistido de tirsr minha vida por causa de uma série, mas depois algo mudou. Eu voltei com a decisão.

               Então eu digo: Eu não me matei porque uma serie me influenciou, não pensem isso. Eu me matei porque eu não aguentava mais existir assim. Eu ja estava morta, o que mais eu serviria nesse mundo? Uma garota totalmente sem essência, sem nada por dentro. Já imaginou um oceano no meio da tempestade? O céu escuro? É assim dentro de mim. Mas tudo silencioso. Tudo muito destruído e silencioso. Tudo muito angustiante e doloroso.

É difícil acordar de manhã e pensar: “Mais um dia em que irei ter lembranças más” “Mais um dia ao lado de pessoas que não me amam, que me odeiam””Mais um dia sentindo uma imensa vontade de chorar em todos os momentos” “Mais um dia desejando morrer” Então eu quero pedir que sejam mais tolerantes. Depressão não e é frescura. Não neguem ajuda a aqueles que estão angustiados, no fundo do poço. E quando forem se lembrar de mim, pensem em uma Thalia verdadeira. Aquela feliz que vocês viam era total mentira.

Adeus
Thalia Mendes Meireles.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário