Jesus, sentado em seu
trono, lembra, hoje, o dia em que foi crucificado, morto e sepultado – a fim de
redimir os pecados do mundo.
Morto por uma elite
social, religiosa e moral, que não aceitava suas ideias, suas palavras e seus
gestos. Deixou uma grande obra pro ser humano, a qual ele insiste em fingir que
aproveita.
Milhões, hoje, não
comeram carne, em seu nome. Milhões, hoje, saíram em procissão, também em seu
nome. Milhões dizem viver e orar e seguir um caminho, de novo, em nome de
Yeshua.
Sem seu nome, iludidos
pela crença de que a tela do computador lhes coloca um véu perante o céu,
dando-lhes o anonimato, espalham ódio, impropérios, absurdos para qualquer ser
humano.
Não tenho dúvidas:
Teriam sido muito
melhores que os soldados de Herodes, matariam Cristo ainda pequeno, quando ele
fugiu de sua mãe e foi ensinar os sábios, no templo. Ou ali ou em outro
momento.
A verdade vos
libertará: Não duraria, o menino Yeshua.
Nos dias de hoje, morto,
Yeshua, dum eventual céu, veria uma foto qualquer, de outra criança segurando
uma arma, ser compartilhada como se o próprio Yeshua fosse tal criança e,
portanto, justificando o assassinato.
Yeshua, acredito eu,
diria: “Pai, na moral, perdoa esses caras. Eles não sabem a merda que tão
falando”
Lembraria, também, de
quando o policial, logo depois de atirar em sua cabeça, chamou ele e seu pai de
vagabundo. Pacífico, como só Yeshua pode ser, responderia: veja bem, seu pm, eu
tenho apenas 10 anos, não poderia trabalhar. E, meu pai, meu pai é pedreiro. Carteira
assinada.
De lá de seu trono, veria
outros dizendo que “foi um erro, humanos erram”, ignorando que não só o próprio
Yeshua foi morto, mas ontem também João Batista, semana passada, Pedro, Tiago,
Matheus, Maria – de Nazaré e Madalena, afinal, puta tem que morrer.
Também leria que a culpa
era dos traficantes. Mas, só o dos morros, porque os de ternos, a polícia deixa
passar – ou alguém meteu bala no dono do helicóptero com 500 kg
de cocaína?
Yeshua entenderia que os
erros quase sempre só acontecem apenas perto da tua casa, com preto e pobre,
como o próprio era, ainda lá em Belém – ou alguém acha que ele era branquinho,
loirinho de olhos azuis?
Talvez, alguns dissessem
que todos os dias morrem pessoas e, inclusive, policiais. Ao qual Yeshua
ficaria em dúvida: então, não devemos lamentar o meu luto, o luto do Salvador
do Mundo, pros cristãos?
[Essa eu respondo,
Yeshua: lamentar? Eles só fingem que lamentam. Custa menos empenho.]
Logo, perguntariam se
existe um vídeo provando que a polícia o matou. Ora, “o testemunho de minha mãe
e dos meus, de nada vale. Ao menos se fôssemos brancos e ricos…”
Gritariam, então, que
Jesus é vitimista.
Ele, acredito eu,
perguntaria como isso pode ser usado como ofensa contra o próprio que, de fato,
é vítima – afinal, foi assassinado na porta de sua casa (!)
Finalmente, se pudessem,
responderiam: então quando um di menor matar alguém da sua família, você leva
ele pra Casa! Ou, quando você precisar de ajuda, vai ligar pra PM, daí?
Não, é claro que ele não
vai ligar, não por birra, mas por saber que, pra ele e pros seus, PM não
significa ajuda e o melhor é, mesmo, rezar – ah, e, claro, pelo simples fato de
ele já estar morto, com um espinho cravado na cabeça.
Visto no: Litera Tortura
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