Por mais que as bases
do conhecimento insistam em dizer que há uma fronteira que divide a
racionalidade da irracionalidade, entre homens e animais parece que tal limiar
vem perdendo este embasamento científico. A esfera social denota esta
desconstrução, visto que numa sociedade carente de várias coisas, a palavra
viver foi acrescida de outra, sobreviver. Sobreviver à desigualdade, que leva a
fome e a miséria, e que corrobora para a selvageria entre os membros da mesma
espécie, é o obstáculo vivido por muitos brasileiros. Esse desejo de
sobrevivência, muitas vezes desonesto, no qual muitas das vítimas desse abismo se
utilizam para sanar as suas necessidades mais básicas, acaba embrutecendo o
comportamento das pessoas, ao ponto delas mesmas não se reconhecerem como integrantes
de uma coletividade. O resultado disso é a supressão da liberdade de ir r vir
de outros cidadãos, que se esquivam da brutalidade de um povo que não escolheu
viver entre a irracionalidade dos animais, mas sim foi abrigado a se tornar e a
agir como um deles.
Mais uma vez os fatores sociológicos contribuem para formação de indivíduos tão instintivos, quanto muitos animais que lutam para manter-se vivos nessa selva chamada de sociedade. Isto porque, por mais clichê, a discussão em torno da violência urbana merece uma acurada reflexão. Esse tema que desmascara os índices, os quais dizem que no Brasil a economia tem crescido e que o povo tem vivido tempos bem melhores do que em outrora. De fato, a economia cresceu, o país está mais próspero e rico, ao ponto de receber até o título de país desenvolvido, sobretudo nos discursos daqueles que são mais otimistas nesse sentido. Acontece que o enriquecimento ainda não atinge a todos, principalmente aqueles que vivem nas periferias da nação, sem acesso a serviços essenciais à vida. Nestes locais, há a formação de seres animalizados, pois a necessidade material e educacional fez deles animais que vivem com um único objetivo: matar a própria fome.
Essa fome é fruto de uma histórica divisão de bens que divide a sociedade entre os que comem bem, do bom e do melhor, enquanto outros sobrevivem com pouco ou quase nada. Por isso, numa sociedade segregada e apegada ao material, é de se esperar que os menos favorecidos busquem na ilegalidade os mecanismos para adquirir aquilo que, infelizmente o dinheiro que eles possuem não pode pagar. Nesse sentido, o número de assaltos não diminui, pois é nesse ato que muitos encontram a chance de possuir as riquezas que a sociedade endinheirada goza. É nesse momento que surgem os assaltos, furtos, dentre outras investidas brutalizadas desse povo sem lenço, nem documento. Então, para se proteger, os cidadãos fazem de tudo. Enquanto os mais ricos andam com segurança privada, enclausuram-se em prédios e casas ao estilo das fortalezas medievais, carros blindados e em bairros projetados para fugir de dessa realidade. Os mais pobres, por outro lado, servem de isca nessa caçada pela sobrevivência.
É o que se percebe na ousadia de muitos bandidos, que em plena luz do dia cometem assaltos dignos das grandes cenas que eletrizam os filmes de ação americanos. São casas sendo arrombadas a qualquer hora e lugar. Investidas em pessoas de faixas etárias diversas, que transitam pelas ruas seja na penumbra da noite ou na radiação emanada pelo sol. Isso não se limita apenas aos locais abertos. Lojas de Shoppings, bancos, escritórios, e tantos outros lugares fechados e “protegidos” servem de alvos fáceis para esses meliantes que agem por instinto. O único problema é que nesses locais a população em geral fica a mercê da violência, a qual fere e mata inocentes, cotidianamente pelo país. Tudo isso poderia ser resolvido se houvesse no Brasil uma política comprometida com as mazelas do povo, as quais só são lembradas superficialmente nas campanhas eleitorais.
Esse esquecimento resulta noutros criando uma bola de neve indissolvível. Faltam saúde e segurança de qualidade e, sobretudo um projeto educacional pautado no respeito às diferenças, principalmente aquelas pautadas na renda. Sem uma educação humanitária, esses indivíduos não são capazes de enxergar no outro uma semelhança, mas sim uma caça, uma presa fácil que deverá ser devorada para que a sua cadeia alimentar sobreviva. E, por isso, o nicho sociológico acaba animalizando seres humanos, revelando verdadeiros feras, que lutam a todo custo para se manterem vivos nessa selva, onde ferir, furtar, matar e morrer se tornaram lema de vida. Então, muitos poderiam questionar quem são os verdadeiros responsáveis por isso e por que eles ainda não fizeram nada?
Imóveis, os governantes do povo não traçam uma real meta para retirar esses “animais” do zoológico onde estão enjaulados. Pelo contrário, eles preferem alimentar esses indivíduos com esmolas, para que não sejam capazes de reivindicar o que é deles por direito. Com essa atitude, os políticos esquecem que os mesmos animais que se estranham entre si, não respeitam fronteiras sociais e, com isso, adentram em outras esferas da sociedade e reivindicam seus direitos abruptamente em sequestros, na potencialização do tráfico de drogas e na execução dos seus possíveis predadores. Ou seja, a marginalidade, a qual tem replicado pessoas animalizadas, não se limita a atmosfera da periferia, com suas favelas e morros. Ela chega até a elite da pior forma possível, invadindo o seu espaço e mostrando que desigualdade é capaz de personificar a humanidade, transformando-os em seres mais animalescos que se possa pensar.
Por causa dessa lacuna, os atos violentos continuam a afrontar a realidade daqueles que, muitas vezes, não têm nenhuma relação com tal disparidade. Esse grupo é composto por boa parte da população, a qual paga caro pelo descaso de uma parcela da sociedade que tem o poder para reverter à realidade marginalizada de muitos indivíduos, mas não demonstram o menor interesse nisso. Nesse diminuto grupo estão os políticos, os grandes empresários, os artistas famosos, e toda uma cultura de luxo e riqueza que é empregada na nação, impregnando valores pautados apenas no dinheiro e esquecendo-se que existem outros que não podem usufruir das mesmas regalias. Abandonados e esquecidos, a enorme massa marginalizada encontra na violência a sua rota de fuga e nela uma vida alimentada pelas armas, drogas, e, consequentemente pela morte. Nesse ciclo de caça e caçador, infelizmente não há vencedores nem perdedores, apenas um empate desumano entre competidores que se enfrentam em prol de nada.
O que fica evidenciado nisso tudo é que muitos animais, considerados irracionais e selvagens, são menos instintivos do que muitos humanos, estes dotados de uma “inteligência”, a qual deveria ser capaz de conduzir sua própria vida, bem como a do outrem, para caminhos mais racionais, ou, no mínimo aceitáveis. Na realidade, a ausência de uma educação pautada no humano poderia ser a causa primária para este dilema, porém, equalizar as riquezas do país poderia, no mínimo, fazer emergir a esperança submersa de um povo que vive e age como verdadeiros animais para sobreviver. Nesse mar de desesperança, onde a sociedade boia a deriva, não faltam apenas alimentos. Ela carece de um ambiente salubre, com bom tratamento sanitário que os livre das epidemias. Falta segurança de qualidade e comprometida com a proteção de todos. Falta educação qualitativa e não essa que é difundida pelo governo pautada apenas em quantidade. E, por fim, falta investimento em tudo o que é, de fato, do povo por direito. Assegurar esses e outros benefícios ajudaria a retirar muitos indivíduos da marginalidade, a qual é impiedosa e não mede esforços quando o assunto é sobrevivência.
Estamos mesmo numa fase em que ser chamado de selvagem é ofensa - para os selvagens.
ResponderExcluirBjs!
Seus texto sempre me levam a reflete!!!
ResponderExcluirBjs!
Yes! Finally something about cabio.
ResponderExcluirMy site savior