Ofício PR 353/2010 (TR/dh)
Curitiba, 10 de dezembro de 2010
Ao: Sr. Octávio Florisbal
Diretor-Geral da Rede Globo
Rua Von Martius, 22
Jardim Botânico
Rio de Janeiro-RJ
22460-040
Prezado Senhor,
Assunto: Revendo conceitos: o “beijo gay” em novelas e outros programas da Rede Globo
A ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – é uma entidade de abrangência nacional que congrega 237 organizações congêneres e tem como objetivo a defesa e promoção da cidadania desses segmentos da população. A ABGLT também é atuante internacionalmente e tem status consultivo junto ao Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas.
Vimos acompanhando com interesse, desde a fundação da ABGLT em 1995, a evolução da abordagem da temática da homossexualidade nas novelas e outros programas produzidos e veiculados pela Rede Globo, tendo inclusive nos manifestado diversas vezes junto aos(às) senhores(as) a este respeito. Exemplos disso são a novela América (2005) e a novela Duas Caras (2008), quando nos manifestamos em relação à possibilidade da veiculação de cenas de um “beijo gay”, que nos dois casos acabaram por não ser transmitidas.
Novamente, surgiu nas últimas semanas a polêmica sobre a possibilidade do “beijo gay”, desta vez na série Clandestinos – O sonho começou, que também não foi ao ar, embora esteja disponível na internet.
Tem sido divulgado nos meios de comunicação que o motivo que leva – repetidamente – à não transmissão de tais cenas seria a Classificação Indicativa do Ministério da Justiça. Um exemplo disso é a declaração recente do autor Walcyr Carrasco, de que a classificação indicativa “não admite algumas coisas”, “inclusive o beijo gay” em novelas.
Informamos que a ABGLT teve a oportunidade de ser consultada em reunião promovida pela Secretaria Nacional de Justiça, em 19 de novembro, que teve como tema “discutindo a classificação indicativa: mídia e violência”. Na oportunidade, foi esclarecido pela Secretaria Nacional que a classificação indicativa não promove censura, apenas recomenda faixas etárias e, no caso da televisão, estabelece horários recomendados para determinadas faixas etárias. Ainda, foi nos esclarecido que um beijo entre pessoas do mesmo sexo é tratado pela classificação indicativa da mesma forma que um beijo entre heterossexuais, não podendo este órgão promover a discriminação em suas classificações indicativas.
Desta forma, reconhecemos o importante e valioso papel que a Rede Globo já vem cumprindo em relação à desmistificação da homossexualidade perante o público em geral, especialmente por meio de telejornais e novelas, embora haja exceções, notadamente alguns programas humorísticos que ridicularizam os homossexuais.
Assim sendo, vimos por meio deste solicitar mais uma vez, que a emissora agregue a este trabalho de sensibilização, a visibilização do afeto que pode existir entre duas pessoas do mesmo sexo, inclusive por meio da veiculação de cena de “beijo gay”, ou “beijo de lesbícas”, a exemplo do que já ocorre em outros países latinoamericanos, como a Argentina, o Chile e o México (links na folha a seguir).
A promoção do respeito à diversidade sexual, e a consequente redução do preconceito e da discriminação, se dá em parte pela desmistificação e pela educação em relação àquilo que foge ao padrão imaginário estabelecido. A Rede Globo pode desempenhar um papel ainda mais significativo neste processo.
Na expectativa de sermos atendidos, estamos à disposição para colaborar no que for possível e agradecemos pela atenção.
Cordialmente,
Toni Reis
Presidente
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