17 junho 2010

O Ato Abortivo na Sociedade

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Temas polêmicos sempre causam revolta e discussões infindáveis, uma vez que abalam com preceitos estabelecidos pelos cânones sociais que, muitas vezes, modelam as regras que sustentam a vida das pessoas. Geralmente, a oposição a determinados assuntos não estão fundamentados em argumentos sólidos o suficiente para defender certas ideias, ou são muito ultrapassados, ao ponto de não considerar a evolução socio-cultural da humanidade. Nesse âmbito, eu poderia listar inúmeros temas que são sabidos da sociedade. Dentre tantos que resvalam no social e acabam não encontrando um norte, ficarei com o aborto, já que este, historicamente enfrenta o repúdio de várias esferas sociais.

Há muito tempo existe o debate acerca da melhor forma de solucionar o impasse que rola quando se fala de aborto. Imediatamente, vem em nossa mente a seguinte indagação: Você é contra ou a favor do aborto? Para essa resposta o senso comum diria que contra, porém, existem outros aspectos nessa questão que merecem ser discutidos antes de se chegar a um veredito. No Brasil, esse tema também causa debates exaustivos, uma vez que a nossa base cristã se manifesta imediatamente contra o ato abortivo.

Antes de qualquer coisa, é preciso entender o principal personagem dessa história, a mulher. Capaz de propiciar a perpetuação da espécie, ela, num período de nove meses em média, sofre diversas transformações físicas e psicológicas para acomodar a chegada de um novo ser. Entretanto, o grande número de abortos no mundo está interferindo na lei natural da vida, despertando na sociedade um questionamento: Quais são as razões que levam cada vez mais mulheres a cometer esse tipo de crime?

Em países em desenvolvimento como o Brasil é fácil identificar as causas que levam muitas mulheres a fazer o aborto. Devido a sua dimensão continental, muitas pessoas acabam sendo esquecidas e serviços básicos como, saúde, saneamento e, o principal, educação, acabam em segundo ou último plano. Isso resulta em outros problemas ligados a temática abortiva que serão mencionados nesse texto.

“O indiscriminado índice de mortes maternas vêm crescendo a cada ano”. Essa frase não é minha. Eu a encontrei num jornal local que informava dados alarmantes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sobre os principais problemas vividos pela sociedade brasileira. A manchete enumerava uma lista dos principais problemas sem uma solução contundente, dentre eles o aborto. Nessa mesma matéria dizia que a razão para tantas mortes maternas estava intimamente relacionada à falta de informação de algumas mulheres dos seus direitos e deveres reprodutivos.

Isso, no Brasil ganha dimensões catastróficas. Como eu havia falado, nos países em desenvolvimento, como o nosso, existem sérios fatores sociais que favorecem a proliferação dos crimes fetais. A começar, podemos citar a má infraestrutura dos hospitais de algumas regiões do país. Em muitas clínicas, não há médicos e/ou equipamentos suficientes e, sobretudo adequados para atender as mulheres que precisarem praticar o aborto. Evidentemente que isso ocorre com maior frequência nas partes mais longíncuas do Brasil, principalmente nas regiões norte e nordeste. O reflexo dessa ausência não poderia ser pior, ou seja, cresce nessas regiões inúmeros estabelecimentos que se habilitam a fazer o aborto, sem o mínimo de cuidado e higiene o bastante para a mãe e o bebê.

Por outro lado, nas grandes capitais, onde os serviços de saúde pública atendem a maioria da população, surgem outros fatores que cominam na prática do aborto. O primeiro deles é a falta de informação prévia. Geralmente, os casos de aborto estão ligados a uma relação sexual precoce, ou seja, antes de discutir sobre o ato abortivo é necessário conscientizar os jovens da importância da prevenção e do sexo seguro. Isto por que muitas das mães que cometem esse tipo de crime estão na faixa entre 13 a 17 anos de idade. Nessa faixa etária as incertezas sobre o futuro acabam resultando em atos impensados que podem levar a morte tanto da mãe, quanto do bebê, senão ambos. Mesmo com a proliferação informativa do uso de anticoncepcionais e o da camisinha, ainda é crescente o número de mães adolescentes que, por motivos diversos, cometem abortos clandestinos.

Outro aspecto que merece ser mencionado é o fator religioso. Como se sabe, a Igreja Católica condena veementemente a prática do aborto sob quaisquer circunstâncias. O principal argumento usado pela Igreja para justificar o seu posicionamento está pautado na questão da concepção da vida, a partir do momento em que ocorre a fecundação. Essa razão é muito plausível, pois, para mim, a vida surgi a partir desse mesmo momento. Todavia, não podemos esquecer que em outrora essa mesma Igreja que hoje propaga um discurso pela vida, matou centenas de pessoas por razões ínfimas. Essa contradição, nada mais é do que uma tentativa desesperada da Igreja de impor seus dogmas numa sociedade que evolui gradativamente a cada dia.

Eu, particularmente, não tenho nada contra aos preceitos que são difundidos pelo catolicismo, mas, insisto em afirmar que, em certos momentos, a Igreja expõe opiniões que não condizem com a realidade, ou seja, parece que ela parou no tempo, numa época em que os seus desmandos controlavam tudo e todos. Nesse sentido, aplicar uma limitação taxativa para o ato abortivo é desconsiderar a evolução do homem como ser social que interfere a todo o instante nas suas práticas culturais interacionais.

Por tudo isso, acho que é relevante analisar cada caso especifico em que o aborto ocorre para então tomar uma posição a favor ou contra. Não podemos nos deixar levar por conceitos arcaicos que desconsideram a atualidade e, sobretudo a evolução da espécie humana. Não estamos mais numa época regida por uma moral inabalável. Estamos sim, num momento em que a sexualidade é cada vez mais precoce; os serviços de saúde pública não atendem a todos; a desigualdade social ainda é operante e a moral...Essa está sucumbindo a um novo modelo de vida que não agrada a algumas instâncias conservadoras que ainda persistem na sociedade.

Por tudo isso, a ideia de interromper uma gravidez gera muita polêmica, devido a falta de diálogo sensato entre todos os envolvidos. Não devemos esquecer que, em alguns casos o aborto é necessário, pois poderá resultar na morte da mãe. Em outros, como em casos de estupros, a lei ampara a mulher que optar por interromper a gravidez. Quer dizer, a casos e casos e todos eles devem ser levados em conta, afinal descartar um feto é sempre algo muito traumático para a mulher que o faz, pois, possivelmente ela carregará consigo, traumas irreversíveis.

Acho que nós somos um pouco incompreensíveis, em determinados momentos. É difícil aceitar o ato abortivo porque associamos instantaneamente a um crime, sem considerar o que levou a mulher cometer esse tipo de ato. Em outros momentos, só pensamos na vida da criança que iria nascer, pois existe algo lúdico em nossas mentes que consideram abominável alguém cometer esse tipo de coisa. Eu até concordo com tudo isso, mas temos que lembrar que em alguns casos a mulher é a principal vítima e que a criança que nasceria seria o reflexo desse sofrimento, podendo até ser maltratada e, quiça, abandonada por essa mãe.

Fazer julgamentos preconceituosos sem penetrar nas razões que levam certas mulheres a cometerem o ato abortivo é o reflexo de uma sociedade que não quer enxergar os inúmeros fatores que propiciam esse tipo de ato. Portanto, antes de expor a sua opinião sobre esse assunto procure focalizá-lo entre vários ângulos para então gerar um juízo de valor fundamentado em todas as instâncias, nas quais esse problema ocorre.




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