23 maio 2010

O Valor de Ser Gay









A sociedade sempre buscou meios de modelar o estilo de vidas das pessoas. Seja no modo de vestir, de andar e até mesmo de se portar em determinados ambientes. A simples ideia de mudar a estrutura tradicional da família era visto como um ato de heresia a todos os valores que, até então, permaneciam enraizados. Todo esse “modelo de vida” vinha sendo seguido à risca durante muito tempo. Entretanto, ao ler recentemente uma matéria num renomado jornal, percebi que isso estava mudando, mas não da forma que eu esperava.
Fui surpreendido com a seguinte notícia: “a comunidade gay está agredindo os valores sociais”. Confesso que fiquei surpreso, e continuei a ler a reportagem. Mais adiante o texto mencionara a perplexidade de um homem de meia-idade, super conservador, que violentou bruscamente o vizinho pelo simples fato deste ter opinado que era a favor da adoção de crianças entre casais homossexuais. O homem que foi agredido revidou dizendo que apenas encarava esse tipo de adoção como a solução para a superlotação dos orfanatos espalhados pelo país – detalhe ele não era gay. Resultado, foi espancado bruscamente e até hoje é visto com maus olhos entre os outros vizinhos da rua onde mora. Esse fato, nada isolado, trás à tona uma discussão: até que grau está delimitado o preconceito na nossa sociedade? Bem, parece difícil responder depois de ler uma reportagem tão absurda quanto essa, mesmo assim vou tentar.
É deprimente encontrar pessoas que agem dessa forma, no intuito de impor um determinado ponto de vista. Num país tão liberal quanto o nosso, onde a prostituição infantil é gritante, a violência cresce de forma exacerbada, altíssimas taxas de desemprego, ainda assim, existam pessoas que perdem seu tempo discriminando outras. A realidade é: ser homossexual no Brasil não é uma tarefa fácil, sobretudo porque ainda existe um estereótipo de que, por mais inteligentes, ricos e influentes, os gays não possuem a moral suficiente para formar uma família decente, quiçá para criar uma criança. Falar de moral no Brasil, onde o numero de bebês abandonados é o maior de toda a América latina é algo paradoxal. No entanto, muitas instituições que apoiam os “valores” da família defendem a tese de que a criança deve crescer num ambiente onde exista um referencial masculino e outro feminino, no intuito de não haver uma influencia na hora dessa criança optar pela sua orientação sexual. É por causa desses pensamentos taxativos que atos violentos, como o que foi mencionado anteriormente, aumentam a cada dia.
Apesar dos avanços ocorridos em toda a esfera da comunidade gay, ainda é notório a presença de certos pensamentos preconceituosos, como o que fora mencionado. Sobretudo no que diz respeito à família, instituição esta que tenta manter a inabalável estrutura herdada dos nossos antepassados. Isso toma uma maior projeção quando o tema em foco é a adoção de criança entre casais homossexuais. Certos pensamentos limitados como esse acabam restringindo o campo de visão das pessoas, esquecendo de olhar para a adoção entre casais gays como uma solução, não só para diminuir a lotação dos orfanatos e creches existentes em todo país, mas também de dar a essas crianças uma vida mais digna e prospera longe muitas vezes da marginalidade que, lamentavelmente permeia o nosso Brasil.
Em muitos países a adoção de crianças, nesse novo modelo de família, está colhendo resultados muito positivos. Muitas vezes, a chance da criança sofrer algum abalo psicológico é bem menor, até porque nesse tipo de adoção a criança é acompanhada durante muito tempo por em especialista, geralmente um pediatra. Claro que ainda existem muitas barreiras sociais que podem influenciar na estrutura psicológica da criança. Mesmo assim, acredito que ampliar a discussão em torno desse novo modelo de adoção poderá solucionar outras fendas existentes na fadada máquina que rege a adoção infanto-juvenil.
Se o simples fato de adotar uma criança já era complicado, isso toma maiores proporções quando o casal que irá fazer a adoção é homossexual. A atitude de manter um modelo de família, centrado numa visão heterossexual é muito louvável. Porém há muito tempo esse modelo de família deixou de existir. Hoje, temos que pensar na felicidade de milhares de crianças que esperam arduamente para serem adotadas. Muitas delas nunca terão uma família e, possivelmente, quando chegarem à idade adulta entraram para a marginalidade, pois não tiveram uma educação de base que as preparassem para a vida em sociedade. Por isso, acredito que é possível mudar essa realidade, mudando primeiro a mente das pessoas sobre a homossexualidade, mostrando que é possível um casal gay criar, da mesma forma ou até melhor do que qualquer outro casal hetero, uma criança. Sei que tudo isso parece meio utópico, principalmente por causa da nossa fadada maquina pública, na qual a burocracia é a palavra de ordem, juntamente com os valores bizantinos que ainda estão incorporados na nossa sociedade, mas se não começarmos desde já a plantar as primeiras sementes contra o preconceito, nunca conseguiremos reverter os conceitos ultrapassados existentes até hoje.

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