Alguns indivíduos são nossos amigos e
admiradores apenas por conveniência. Basta que façamos algo ou expressemos
alguma opinião que não lhes satisfaça a suprema vontade e pronto. Acabou a
amizade e admiração. Na verdade a admiração nunca existiu. A amizade
muito menos. Você era apenas uma peça no tabuleiro do jogo de vida dessa
pessoa. Enquanto você estava lhe garantindo pontos, ok! Quando ela percebe que
você não vai mais fazer o seu jogo, ela lhe aplica um game over. Ou seja, não
quero mais papo. Não serve mais pra mim.
A
cantora Beyoncé está experimentando o gosto amargo dessa porção hipócrita da
humanidade. Porção essa que é bem maior do que possamos imaginar. A artista foi
uma das atrações no palco do Super Bowl, no intervalo da final do campeonato
americano de futebol, que costuma ter a maior audiência da TV nos EUA. A então,
grande diva da música pop americana, cantou a sua nova música de trabalho,
“Formation”, cuja letra toca na ferida do racismo nos EUA e escracha a
violência e os assassinatos cometidos por abuso de poder por parte de polícia e
que vitima os negros daquele país há décadas.
Além
de trajarem, ela e suas dançarinas, um figurino que remetia ao grupo Panteras
Negras, organização que entre os anos 1960 e 1980 denunciava os abusos sofridos
pela população por parte da polícia norte americana e pregava uma revolução
negra no país, Beyoncé ainda fez um “X” durante sua performance, numa clara
alusão a Malcolm X, grande líder negro e defensor do nacionalismo negro nos
EUA. Uma das frases da música cantada por Beyoncé no palco do Super Bowl diz:
“Eu posso ser um Bill Gates negro em progresso, porque eu arraso” Foi um
alvoroço total. Ela acabara de se transformar no maior lançador da história do
Super Bowl, fazendo um lançamento de 100 jardas, preciso e certeiro. Só que a
bola caiu feito uma bomba na mão do recebedor. E como batata quente ninguém
segura, deu-s e a discórdia.
Beyoncé
despertou a ira dos conservadores e foi desencadeada uma campanha de boicote a
artista. Até o ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani, se manifestou contra o
discurso de empoderamento negro da cantora, alegando que a cantora atacou a
polícia norte-americana e estimulou a violência. Outros grupos, inclusive de
fãs do Super Bowl, repudiaram o que eles classificaram como “discurso de ódio e
racismo” e até organizaram um protesto em frente a sede da liga nacional de futebol
americano. Mas por que uma simples música gerou tanta polêmica? Por que a diva
do pop internacional está sendo colocada no paredão?
Experimente
você, que é negro e lê esse artigo, a falar sobre racismo com seus amigos,
vizinhos ou colegas de trabalho que não são negros. Traga a tona todo o
constrangimento histórico que foi causado a seus antepassados e que ainda hoje
tem consequências em nossa sociedade. Certamente você ouvirá frases do
tipo: “Isso é coisa da sua cabeça”, “Isso não existe mais”, “Somos todos
iguais” Mas caso você insista e decida se manifestar de forma mais contundente,
não aceitando o tratamento inferior que lhe é dado por seu chefe, não se
calando diante de atitudes racistas no seu dia a dia e colocando o dedo na cara
e na ferida de quem é portador de um racismo internalizado e nem se dá conta
disso, prepare-se! Você será visto como um perigo para a sociedade.
O
oprimido passa a ser o opressor das ideias de quem o oprime, quando não se cala
diante da opressão sofrida. A sua justa indignação diante da injustiça que lhe
é imposta, acaba sendo usada contra ele, sob o argumento de que ele é um
subversivo de alta periculosidade e que a qualquer momento pode deflagrar uma
onda de revolta nos oprimidos, impedindo assim que o sistema continue a
privilegiar a tradicional casta fascista que detém o poder. Na verdade
esse perigoso subversivo é um libertador que conscientiza os demais e os alerta
para que façam valer os seus direitos de igualdade em relação a todos.
Beyoncé foi subversiva na visão dos fascistas. Ousou a desafiar publicamente um
sistema que até então não a enxergava, ou fingia não enxergá-la como negra,
devido à posição social que ela ocupa e também devido ao fato de até então ela
não ter se manifestado de forma tão contundente contra o racismo
institucionalizado em nossa sociedade.
O
negro conformado, subserviente e que acredita na meritocracia e na justiça
social dos fascistas é sempre bem aceito. Até porque ele já sabe onde é o seu
lugar. Não vai querer incomodar ninguém. Mas o negro libertário, contestador e
de personalidade, é sempre um problema. É polêmico, problemático, quer ser
tratado com respeito, quer os mesmos direitos, não quer mais ficar na senzala
do esquecimento e da opressão. Os racistas piram! A Beyoncé de “Single Ladys”
ficou para trás. O norte americano pensava que ela fosse branca e quando
descobriram que ela não passa de uma negra de sucesso, se decepcionaram. Talvez
agora eu entenda a razão pela qual o nosso Pelé não abra mão da sua “White
face” social. Ele é o rei do futebol e se descobrirem que ele é negro, a sua
coroa pode p assar para outra cabeça. Afinal, em terra de fascista, nem todo
mundo pode ser rei. Mas qualquer um é coroado, desde que pense e aja como um.
Viva
a resistência!
Visto: Brasil 247
Pura verdade. Me lembro até hoje o dia que entrei numa loja Renner no centro da cidade e a atendente olhou pra mim dos pés a cabeça. Provavelmente ela era afrodescentende como eu mas ninguém aqui no Brasil acredita em sua descendencia africana.
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