Nas avenidas, nos
clubes, nas saunas, na vizinhança e também na internet, muitos são os locais
onde se pode encontrar a prostituição. Seus encantos enfeitiçam homens e
mulheres há gerações. Diante de tamanha hipnose, parece que poucos notaram que
há uma incoerência nessa relação da qual o sexo é comercializado. A priori, a
sociedade tem a vaga ideia de que o profissional do sexo é aquele que recebe
para cumprir um determinado papel. Entretanto, numa análise mais centrada,
percebe-se que na prostituição não há papeis principais ou secundários.
Distantes dessa teatralização sexual, o que se vê são duas pessoas carentes em
busca de prazeres diferentes. Seres desejosos de uma satisfação mútua, mas que
infelizmente são tolhidos de realiza-las por diversas razões. Então, surgem os
guetos sexuais, espaços onde a concretização do prazer ganha vida, exibindo a
verdadeira face da prostituição: a de uma sociedade que não aprendeu a lidar com
o próprio ato sexual de forma naturalizada.
Sem registros precisos
na história da humanidade, mas lendariamente conhecida como a profissão mais
antiga do mundo, a prostituição sobrevive na atualidade entre a liberdade de
sua prática e o moralismo da sociedade. Dela, homens e mulheres, insatisfeitos
com as imposições sociais de cada época, buscam uma realização sexual fora dos
moldes convencionados pelos dogmas religiosos ocidentais, dos quais têm a
monogamia como padrão. No entanto, essa espécie de transgressão, que é vista
ora como deleite por alguns ora como uma afronta aos valores conjugais por
outros, não está apenas limitada aos famosos profissionais do sexo. Numa
sociedade onde o corpo é cada vez mais coisificado e a sexualidade humana ainda
é vista como tabu, o resultado é a prostituição de indivíduos, que muitas
vezes, nem sequer tem a noção de que estão sendo sexualmente comercializados.
Para efeito conceitual,
denominam-se prostitutas aquelas pessoas que recebem dinheiro para realizar
fantasias sexuais. Semelhantes ao gênio da lâmpada, esses profissionais fazem
dos impossíveis sonhos dos seus clientes, a mais doce realidade. Exercendo essa
função com total esmero, estão às mulheres, principais protagonistas desse
teatro a dois. Elas que povoam ruas e bordeis onde homens vão buscar a
realização sexual há muito tempo perdida. De idades, etnias e classes sociais
diversas, são elas as responsáveis pelo deleite de homens, casados ou
solteiros, adultos ou jovens, que encontram em seus braços a chave para a porta
que abre o paraíso. Putas, cocotes, rameiras, acompanhantes, entre eufemismos e
xingamentos, elas concretizam os desejos de uma sociedade acostumada a
encontrar nos guetos o que foi privada de ter em casa.
Há também muitos homens
que se renderam a esse tipo de atividade. Conhecidos como michês ou garotos de programa, muitos são os rapazes que se
aventuram nesse submundo em busca de dinheiro, fama e sucesso. Nessa atmosfera,
vale citar as travestis, que entram nessa vida muitas vezes por uma imposição
social, da qual relega a elas a venda do próprio corpo como meio de
sobrevivência. Entretanto, sejam entre mulheres, homens ou travestis, a
carência sexual é o principal pivô da incessante busca da sociedade por estes
profissionais. Sem uma educação libertária no tocante ao sexo, muitos
indivíduos rompem com a moral e os bons costumes e vão saciar suas necessidades
nos braços daqueles mal vistos pela sociedade. Diante disso surge a questão:
quem realmente se prostitui?
A verdade é que, direta
ou indiretamente, todos são prostituídos, antes mesmo de terem ciência disso.
Tal violência acontece nos primeiros ensinamentos ligados ao sexo, seja dentro
de casa, seja na atmosfera escolar. Nesses ambientes, falar de sexo ainda é
tocar em casamento, procriação, filhos, nunca está relacionado ao prazer, a
gozar a vida literalmente. Por essa razão, os indivíduos são violentados por
uma educação que não ensina as várias possibilidades que o sexo pode oferecer,
mas apenas a limitação procriativa em torno dele. Censurados, duvidosos e com
muita curiosidade, estes seres logo são angariados pela indústria do sexo, a
qual comercializa o prazer, que deveria ter sido ensinado com naturalidade em
determinada época da vida, mas que agora se tornou cifra para aquisição de
pseudoalegrias. É nesse momento que surgem os bordeis, pois é somente neles que
o real prazer é permitido e onde deverá ser consumado por aqueles que foram
privados dele a vida toda.
Seguindo esse
raciocínio, a indústria pornográfica lucra muito com tudo isso. Com filmes,
clubes e profissionais dispostos a satisfazer qualquer fantasia, esse ramo é um
dos mais lucrativos do mundo. Isso
acontece, porque ao saber da carência sexual vivida pela sociedade, a
pornografia cria os mecanismos perfeitos, capazes de preencher as lacunas da
falta de educação sexual. Na realidade, muitos procuram por estes serviços, porque
se sentem incompletos sexualmente. Então, surgem esses atores/atrizes
entretendo essa sociedade prostituída, que vive num eterno dilema: vender uma
imagem de país liberal, onde o sexo é livre, com suas mulheres exuberantes,
geralmente corporificadas pelo samba, pelos comerciais de cervejas e pelos
jogos de futebol; ou manter os tabus ancestrais nutridos por diversos segmentos
religiosos, os quais veem o sexo apenas como um ato divinal? Seja como for,
muitos indivíduos não estão contentes com esse modelo e buscam a todo custo
transgredi-lo através do sexo pago.
Por outro lado, a
banalização do sexo também contribui para que a sociedade seja prostituída. Numa
cultura onde tudo cheira a sexo, desde cedo, desorientados e altamente
motivados, muitos jovens são prostituídos pela mídia e seus atraentes reclames.
Ora através da televisão e seus comerciais e problemas apelativos, dos quais a
sensualidade é despertada em propagandas dúbias, novelas com cenas picantes e
filmes impróprios; ora pela conduta musical, a qual tem banalizado o ato
sexual, tornando-o muitas vezes vulgarizado entre homens e mulheres, sobretudo
entre estas últimas. Sem referências reais, muitos indivíduos se deixam levar
por isso e acabam se entregando ao deleite do sexo descompromissado. Isso
reverbera em gravidezes não planejadas, doenças sexualmente transmissíveis e
até em morte. Tudo porque a sociedade não aprendeu a experienciar o sexo como
este deve e merece ser experienciado: naturalmente.
Então, diante de tudo
isso, a prostituição aparece como salvadora da pátria. Ela é importante por
inúmeras razões. A primeira porque naturaliza a prática sexual, proporcionando
aos seus clientes a experiência prazerosa que foi roubada deles por causa de
uma educação limitada em torno do sexo. Segundo porque, ela dá uma tapa na cara
dos conservadores e sensacionalistas, que costumam inferiorizar os
profissionais do sexo. Na verdade, quem se prostitui não são as garotas de
programa ou os michês, mas quem procura pelos seus serviços. Eles sim são os
reais prostitutos, pois durante o dia vulgarizam essa profissão, mas ao cair da
noite se entregam aos encantos de moças e rapazes e se deixam levar por eles. Último
ponto disso tudo é que a prostituição, e sua longínqua existência na terra,
evidencia que a sociedade vive uma doença chamada: ausência de sexo. Por causa
disso é que muitos pacientes lotam puteiros e ruelas atrás da cura para esse
terrível mal, que infelizmente acomete muito mais gente do que se imagina.
Sorte que o antídoto tem preços variados e é encontrado em diversos locais,
sempre proporcionando alívio e relaxamento imediato a quem o procura.
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