Uma caricatura da mulher permite excessos, pré-requisito fundamental para se tornar uma drag queen. “Economia” é proibido, e timidez vira palavrão. É preciso “explodir” em cores no figurino, brilhos, glamour, feminilidade, maquiagem e alegria. Não à toa, são conhecidas também como “palhaços de luxo”. A personagem ganha nome e sobrenome diferentes do da certidão de nascimento do intérprete. A denominação, às vezes, vem da “identidade” de madrinhas. Ou seja, drags veteranas batizam a novata. Assim, é mais fácil começar a carreira que tem o improviso como base.
O teatro é a escola da maioria das drag queens do Recife. Algumas até nasceram de espetáculos, como a bailarina Thyna Flyer e a cantora Jurema Fox. Das mais bem-sucedidas, algumas carreiras são sustentadas por noção empreendedora, enquanto outras se nutrem pelo sentido artístico. Um alerta: a essência de drag não está só no “bate-cabelo”. A construção da personagem depende de pesquisa. O perigo é que a falta de profissionalização de algumas prejudica a valorização do ofício. No Recife, os estilos mais comuns são as top drags - com postura mais feminina - e as caricatas. No palco, não há preconceito. Mas muitas se deparam com o desafio de quebrar um tabu: nem toda drag é gay. É o caso de Vagiene Cokeluche.
“Por existir esta correlação, acho que o mercado drag queen vem se desenvolvendo no estado junto com o crescimento da valorização da população LGBT”, analisa Thiago Rocha, coordenador de projetos do Instituto Papai. No Recife, boates como o MKB e o Clube Metrópole (ambos na Boa Vista) dão espaço a essa arte. Algumas críticas giram em torno da parte financeira. Segundo os artistas, o cachê pago por algumas casas não compensa a montagem de uma drag. A produção é cara. Inclui maquiagem, acessórios e figurino de alto custo. Em média, gastam de R$ 400 a R$ 1 mil por look. A ressalva mobiliza os artistas a procurarem outros “palcos”. Por isso, justifica a predominância de drag queens em festas particulares e eventos de empresas privadas.
Vagiene Cokeluche
Nome na certidão: Junior Barros
Idade: 44 anos
Uma das referências da atual geração, Vagiene Cokeluche festejou, no domingo, os 20 anos de carreira. Para se manter por tanto tempo no mercado, ela se destaca em dois quesitos: a experiência no teatro e a visão empreendedora. Junior é formado em marketing e aposta na indústria de entretenimento para alavancar a carreira. De cara, quebra um tabu: não é homossexual. É casado há 15 anos e tem dois filhos (um de 13 anos e um de quatro). A esposa e as crianças têm participação efetiva nos bastidores de Vagiene. Segundo Junior, os filhos sabem separar a figura do pai à da personagem. “As pessoas estranham muito o fato de ser casado e ter filhos... Assim como também estranho certas posturas de qualquer cidadão. O tabu sempre vai existir, principalmente, porque é um homem vestido de mulher. Mas quando conhece a essência do personagem, isso passa despercebido. A gente quebra tabus com respeito”, pontua.
Jurema Fox
Nome na certidão: Reyson Santos
Idade: 24 anos
De dia, Reyson traja bermuda, tênis esportivo, camisa e boné. Tem jeito de boy. À noite, dá vida ao mulherão Jurema Fox, drag com a bandeira de dois movimentos: LGBT e brega. Jurema nasceu em 2010, no musical Paloma para matar (em cartaz, leia abaixo), de Lano de Lins, no qual interpretava Jurema Knowles, inspirada em Beyoncé. Ela começou a receber convites para ultrapassar os limites do teatro. “Aqui em Pernambuco tem o esquema de apadrinhamento de drags. A Joelma Fox me apadrinhou com o sobrenome dela. Quando você chega na noite, desconhecido, com o sobrenome de uma drag mais forte, fica mais fácil começar”. Para se diferenciar das veteranas, decidiu investir como cantora. “Jurema é tudo que vejo que uma mulher pode ser. Diva, feliz, expressiva, que sai na rua pronta para arrasar”. Ela faz a linha do humor escrachado. Por mês, são de 8 a dez shows em pubs LGBT e boates ou festas privadas. Em novembro, grava o primeiro DVD da carreira, com participação de João do Morro e Michelle Melo.
Renathinha Picaxú
Nome na certidão: Williams Ferreira de Castro
Idade: 30 anos
Há dez anos, Williams Ferreira é chamado por Picaxú, sobrenome da drag criada por ele. A vida profissional e pessoal mudou completamente por causa do personagem. A trajetória artística começou como recreador infantil e, depois, saltou para o mercado adulto. Em uma festa privada, o pai de um aniversariante de oito anos queria algo que associasse adulto e criança. “Picaxú fez a referência ao Pokémon”, explica. Passou a frequentar a Metrópole, onde se tornou drag hostess (recepcionista). A escolha pelo ramo rendeu um fim de namoro. “Ele não aceitava a profissão. Achava que ia cansar. Mas quando viu que era sério, acabou”, relembra. Picaxú integra a lista de drags caricatas. Apresenta-se, principalmente, em festas privadas, como formaturas e aniversários. Não gosta de humor escrachado e exclui palavrões das performances. “Ser drag é a arte do improviso. Fui me adaptando ao longo do tempo, me baseando em outras drags. Cada festa é diferente. A personagem vai ficando mais forte”.
Thyna Flyer
Nome na certidão: Ricardo da Silva
Idade: 28 anos
A personagem é referência no mercado pernambucano de drags. O diferencial: é bailarina e se apresenta em todo o país. Por mês, são cerca de 15 shows. Thyna surgiu quando Ricardo tinha 17 anos. Ali, deparou-se com as primeiras dificuldades. Não podia viajar a trabalho por conta da idade. Com a maioridade, foi mais tranquilo. Aprendeu a andar de salto em laboratórios de ensaios. Escolheu a dança como elemento artístico da performance. O seu “bate-cabelo” (movimento no qual as drags abusam da “força da peruca”) é considerado um dos melhores do Norte e Nordeste. Figurino impecável, cheio de pedrarias, e peruca com cabelos de verdade dão status de diva drag performática - que se centra mais na coreografia do que no humor. Além de dar vida a Thyna Flyer, Ricardo atua em espetáculos teatrais (infantis, inclusive). “Nunca tive muita dificuldade. Sempre fui bem recebido, tanto pela comunidade LGBT, como na comunidade hétero”.
Thanya Tulmuto
Nome na certidão: Rafael Silva
Idade: 30 anos
Rafael aposta na linha de humor caricato. Sem palavrões, ofensas ou humor escrachado. Antes de criar Thanya Tulmuto, a diva dos leques gigantes, fazia teatro e a noite do terror do Playcenter. Por sugestão de um amigo, há nove anos, incorporou uma drag queen em ação personalizada na Praça do Entroncamento. O começo foi difícil. Largou os cursos de informática, computação gráfica e web design para percorrer o ramo de entretenimento. Uma das referências de Thanya é Vagiene Cokeluche, sobretudo na aposta empreendedora. Rafael criou a produtora de entretenimento RSPA Produções, que agenda os shows. “Para mim, Thanya é uma fonte de renda. Larguei minha área para trabalhar com isso. Acho que faltam pessoas mais qualificadas. O artista tem que se valorizar mais”. Thanya faz de 20 a 30 apresentações por mês (incluindo fora do estado). Também é fundadora da ONG MAJG, que procura instruir artistas do universo LGBT a se formalizar e trabalhar em todas as esferas.
Salário Mínimo
Nome na certidão: José Lidu de Oliveira
Idade: 45 anos
O primeiro diferencial de Salário Mínimo é participar de programas de televisão. Está há dez anos na equipe de Jeison Wallace. Atualmente, interpreta vários personagens no programa Clube da Cinderela, da TV Clube/Record. Na atração, também incorpora a cadelinha Xôla, bastante querida do público. Começou como transformista. Antes mesmo de fazer 18 anos, conta que fugia da polícia, quando se apresentava em boates. Ganhava um cachê mínimo pelo trabalho, que consistia em uma “passagem de ônibus, coxinha e refrigerante”. “Na época, não existia isso de drag queens. Era transformista, caricata ou travesti”, lembra. Além da atuação na televisão, preenche a agenda com apresentações em casas noturnas, peças teatrais (como Preta de neve e um anão e Mãezona) e festas particulares. “Salário Mínimo é para mim um sustento. Tenho tudo através dela. Todo mundo me chama de Salário. É minha vida”, reconhece.
O teatro é a escola da maioria das drag queens do Recife. Algumas até nasceram de espetáculos, como a bailarina Thyna Flyer e a cantora Jurema Fox. Das mais bem-sucedidas, algumas carreiras são sustentadas por noção empreendedora, enquanto outras se nutrem pelo sentido artístico. Um alerta: a essência de drag não está só no “bate-cabelo”. A construção da personagem depende de pesquisa. O perigo é que a falta de profissionalização de algumas prejudica a valorização do ofício. No Recife, os estilos mais comuns são as top drags - com postura mais feminina - e as caricatas. No palco, não há preconceito. Mas muitas se deparam com o desafio de quebrar um tabu: nem toda drag é gay. É o caso de Vagiene Cokeluche.
“Por existir esta correlação, acho que o mercado drag queen vem se desenvolvendo no estado junto com o crescimento da valorização da população LGBT”, analisa Thiago Rocha, coordenador de projetos do Instituto Papai. No Recife, boates como o MKB e o Clube Metrópole (ambos na Boa Vista) dão espaço a essa arte. Algumas críticas giram em torno da parte financeira. Segundo os artistas, o cachê pago por algumas casas não compensa a montagem de uma drag. A produção é cara. Inclui maquiagem, acessórios e figurino de alto custo. Em média, gastam de R$ 400 a R$ 1 mil por look. A ressalva mobiliza os artistas a procurarem outros “palcos”. Por isso, justifica a predominância de drag queens em festas particulares e eventos de empresas privadas.
Vagiene Cokeluche completa 20 anos no mercado de entretenimento. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press |
Vagiene Cokeluche
Nome na certidão: Junior Barros
Idade: 44 anos
Uma das referências da atual geração, Vagiene Cokeluche festejou, no domingo, os 20 anos de carreira. Para se manter por tanto tempo no mercado, ela se destaca em dois quesitos: a experiência no teatro e a visão empreendedora. Junior é formado em marketing e aposta na indústria de entretenimento para alavancar a carreira. De cara, quebra um tabu: não é homossexual. É casado há 15 anos e tem dois filhos (um de 13 anos e um de quatro). A esposa e as crianças têm participação efetiva nos bastidores de Vagiene. Segundo Junior, os filhos sabem separar a figura do pai à da personagem. “As pessoas estranham muito o fato de ser casado e ter filhos... Assim como também estranho certas posturas de qualquer cidadão. O tabu sempre vai existir, principalmente, porque é um homem vestido de mulher. Mas quando conhece a essência do personagem, isso passa despercebido. A gente quebra tabus com respeito”, pontua.
Jurema Fox se inspira em divas e representa o brega. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press |
Jurema Fox
Nome na certidão: Reyson Santos
Idade: 24 anos
De dia, Reyson traja bermuda, tênis esportivo, camisa e boné. Tem jeito de boy. À noite, dá vida ao mulherão Jurema Fox, drag com a bandeira de dois movimentos: LGBT e brega. Jurema nasceu em 2010, no musical Paloma para matar (em cartaz, leia abaixo), de Lano de Lins, no qual interpretava Jurema Knowles, inspirada em Beyoncé. Ela começou a receber convites para ultrapassar os limites do teatro. “Aqui em Pernambuco tem o esquema de apadrinhamento de drags. A Joelma Fox me apadrinhou com o sobrenome dela. Quando você chega na noite, desconhecido, com o sobrenome de uma drag mais forte, fica mais fácil começar”. Para se diferenciar das veteranas, decidiu investir como cantora. “Jurema é tudo que vejo que uma mulher pode ser. Diva, feliz, expressiva, que sai na rua pronta para arrasar”. Ela faz a linha do humor escrachado. Por mês, são de 8 a dez shows em pubs LGBT e boates ou festas privadas. Em novembro, grava o primeiro DVD da carreira, com participação de João do Morro e Michelle Melo.
Renathinha Picaxú nasceu para atuar no mercado adulto de eventos. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press |
Renathinha Picaxú
Nome na certidão: Williams Ferreira de Castro
Idade: 30 anos
Há dez anos, Williams Ferreira é chamado por Picaxú, sobrenome da drag criada por ele. A vida profissional e pessoal mudou completamente por causa do personagem. A trajetória artística começou como recreador infantil e, depois, saltou para o mercado adulto. Em uma festa privada, o pai de um aniversariante de oito anos queria algo que associasse adulto e criança. “Picaxú fez a referência ao Pokémon”, explica. Passou a frequentar a Metrópole, onde se tornou drag hostess (recepcionista). A escolha pelo ramo rendeu um fim de namoro. “Ele não aceitava a profissão. Achava que ia cansar. Mas quando viu que era sério, acabou”, relembra. Picaxú integra a lista de drags caricatas. Apresenta-se, principalmente, em festas privadas, como formaturas e aniversários. Não gosta de humor escrachado e exclui palavrões das performances. “Ser drag é a arte do improviso. Fui me adaptando ao longo do tempo, me baseando em outras drags. Cada festa é diferente. A personagem vai ficando mais forte”.
A performance de Thyna Flyer inclui dança nas apresentações. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press |
Thyna Flyer
Nome na certidão: Ricardo da Silva
Idade: 28 anos
A personagem é referência no mercado pernambucano de drags. O diferencial: é bailarina e se apresenta em todo o país. Por mês, são cerca de 15 shows. Thyna surgiu quando Ricardo tinha 17 anos. Ali, deparou-se com as primeiras dificuldades. Não podia viajar a trabalho por conta da idade. Com a maioridade, foi mais tranquilo. Aprendeu a andar de salto em laboratórios de ensaios. Escolheu a dança como elemento artístico da performance. O seu “bate-cabelo” (movimento no qual as drags abusam da “força da peruca”) é considerado um dos melhores do Norte e Nordeste. Figurino impecável, cheio de pedrarias, e peruca com cabelos de verdade dão status de diva drag performática - que se centra mais na coreografia do que no humor. Além de dar vida a Thyna Flyer, Ricardo atua em espetáculos teatrais (infantis, inclusive). “Nunca tive muita dificuldade. Sempre fui bem recebido, tanto pela comunidade LGBT, como na comunidade hétero”.
Thanya Tulmuto alimenta arte e visão empreendedora do ator. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press |
Thanya Tulmuto
Nome na certidão: Rafael Silva
Idade: 30 anos
Rafael aposta na linha de humor caricato. Sem palavrões, ofensas ou humor escrachado. Antes de criar Thanya Tulmuto, a diva dos leques gigantes, fazia teatro e a noite do terror do Playcenter. Por sugestão de um amigo, há nove anos, incorporou uma drag queen em ação personalizada na Praça do Entroncamento. O começo foi difícil. Largou os cursos de informática, computação gráfica e web design para percorrer o ramo de entretenimento. Uma das referências de Thanya é Vagiene Cokeluche, sobretudo na aposta empreendedora. Rafael criou a produtora de entretenimento RSPA Produções, que agenda os shows. “Para mim, Thanya é uma fonte de renda. Larguei minha área para trabalhar com isso. Acho que faltam pessoas mais qualificadas. O artista tem que se valorizar mais”. Thanya faz de 20 a 30 apresentações por mês (incluindo fora do estado). Também é fundadora da ONG MAJG, que procura instruir artistas do universo LGBT a se formalizar e trabalhar em todas as esferas.
Além da noite recifense, Salário Mínimo atua na televisão - Foto: TV Clube/Reprodução |
Salário Mínimo
Nome na certidão: José Lidu de Oliveira
Idade: 45 anos
O primeiro diferencial de Salário Mínimo é participar de programas de televisão. Está há dez anos na equipe de Jeison Wallace. Atualmente, interpreta vários personagens no programa Clube da Cinderela, da TV Clube/Record. Na atração, também incorpora a cadelinha Xôla, bastante querida do público. Começou como transformista. Antes mesmo de fazer 18 anos, conta que fugia da polícia, quando se apresentava em boates. Ganhava um cachê mínimo pelo trabalho, que consistia em uma “passagem de ônibus, coxinha e refrigerante”. “Na época, não existia isso de drag queens. Era transformista, caricata ou travesti”, lembra. Além da atuação na televisão, preenche a agenda com apresentações em casas noturnas, peças teatrais (como Preta de neve e um anão e Mãezona) e festas particulares. “Salário Mínimo é para mim um sustento. Tenho tudo através dela. Todo mundo me chama de Salário. É minha vida”, reconhece.
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