26 janeiro 2011

Identidade de Gênero



O senso comum tem como certa e absoluta a crença de que a identidade sexual, advinda do aparelho genital de cada pessoa, e a sua identidade de gênero deverão coincidir sempre. Assim, se a pessoa nasce macho ou fêmea, espera-se que ela automaticamente assuma a identidade masculina ou feminina, respectivamente. Infelizmente, não é assim que as coisas funcionam no mundo real. Ninguém se torna homem, masculino, simplesmente por ter nascido com um pinto entre as pernas. Da mesma forma, ninguém se torna mulher simplesmente por possuir uma vagina e um par de seios. As escolhas não são automáticas assim como a opção de cada indivíduo por essa ou aquela identidade de gênero não se restringe ao sexo biológico que apresenta ao nascer. O número de variáveis envolvidas na escolha é infinitamente maior do que simploriamente supõe o senso comum.

Define-se “identidade de gênero” como sendo a maneira pessoal de cada um se ver como macho ou como fêmea (ou raramente, ambos ou nenhum). Está intimamente relacionado à idéia do papel de gênero, que é definido como as manifestações externas da personalidade que refletem a identidade de gênero. Posto de maneira simples, a identidade de gênero é uma auto-etiqueta; o papel de gênero é uma etiqueta dada pela sociedade em função do comportamento e da aparência esperada. Por exemplo, se uma pessoa pensa que é macho e se identifica como tal, então a sua identidade de gênero é masculina. Contudo, seu papel de gênero só será “masculino” se ele também demonstrar características tipicamente masculinas no seu comportamento, modo de vestir, atitudes e/ou maneirismos. Essas são expressões externas da sua identidade de gênero.

Identidade de Gênero é assim uma espécie de imagem que cada pessoa começa a construir de si mesma a partir do momento em que chega ao mundo (alguns especialistas afirmam que até mesmo antes disso, ainda no útero da mãe), cristaliza-se por volta dos 3-4 anos e se manifesta, de modo conflitivo, no início da adolescência (12-15 anos). Ou seja, é um auto-conceito que cada indivíduo faz de si mesmo como masculino ou feminino, baseado em um número muito maior de variáveis do que apenas o seu sexo biológico real. A identidade de gênero funciona como um “mapa interno” que informa a cada um de nós que tipo de pessoa a gente efetivamente acha que é, a despeito do enquadramento de gênero que nos foi dado ao nascer.

A maior parte das pessoas busca demonstrar uma total congruência entre identidade de gênero e papel de gênero. Quando nossa identidade de gênero apresenta discordância em relação ao gênero que nos foi atribuído ao nascer, desenvolve-se um conflito de expressão de gênero que poderá evoluir para um Transtorno de Identidade de Gênero.

Em sua maioria, os transgêneros homens admitem ter construído sua identidade masculina de maneira bastante artificial, uma verdadeira “máscara de conveniência social”, forjada à custa de muito desconforto e sofrimento pessoal, apenas para serem aceitos pelos demais, para parecerem iguais a todo mundo e para não divergir ou destoar dos padrões de gênero impostos pela sociedade.

A pessoa transgênera vive como pode no gênero que lhe foi atribuído ao nascer: - cria metas, desenvolve gostos e idiossincrasias, cultiva crenças, valores, hábitos, passatempos, etc. Muitos são tão bem sucedidos nesse processo de auto-disfarce que, além de enganarem todo mundo, conseguem enganar até a si mesmos. Na medida em que os expedientes de disfarce são bem-sucedidos, vai ficando cada vez mais difícil para o transgênero livrar-se deles. Mas embora a máscara de conveniência social possa tornar-se indistinguível do eu real para todos os efeitos, no seu íntimo, todo transgênero sabe que se trata tão somente de uma fachada socialmente aceitável, criada e mantida com o propósito único de sua “sobrevivência” física, moral e psicológica dentro da comunidade em que vive. No fundo de cada um, o verdadeiro self, reprimido e recalcado, além de não se deixar iludir pelo artifício de uma personalidade de fachada, com o tempo começa a cobrar alguma forma de expressão no mundo.

Para a maioria dos homens transgêneros, vestir-se de mulher é a saída mais óbvia. Se não se pode ser feminino, pode-se, ao menos, tentar expressar a feminilidade latente vestindo-se de mulher. O grande problema é que, quanto mais consegue expressar seu verdadeiro eu, mais aumenta o desejo de expressa-lo ainda com maior intensidade. Embora muitos continuem buscando aperfeiçoar a forma de expressão da sua feminilidade, a maioria sucumbe diante do pânico de ser descoberta, sufocada pela culpa de imaginar que está fazendo algo errado.

Por Letícia Lanz

16 comentários:

  1. Muito bom, Diogo! Acho, inclusive, que o texto merecia uma continuidade mais aprofundada, mas de forma geral abrangeu bastantes considerações pertinentes.

    Eu fico imaginando uma situação corriqueira: a gente quando "engole sapos" em qualquer coisa na vida fica sentindo um tremendo alívio interior, psicológico, quando consegue falar sobre o problema ou resolvê-lo de alguma forma. Então, não dá nem para imaginar o sofrimento de uma pessoa que fica eternamente num conflito desse tipo por medo, insegurança ou outra razão para não assumir. É um sofrimento e uma dor que não tem nem como pensar no tamanho. Abraços. Paz e bem.

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  2. A complexidade do comportamento humano é incompreensível. Somos diversos. E que bom!

    Bejio!

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  3. E que bom é ler vocÊ, sempre com textos reflexivos e inteligentes.
    Beijosssssss meu lindo.

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  4. Belo texto... ótima colocação...
    Cada um vive como quer, como gosta, como sente bem....
    Acho que deveria haver mais respeito e compreensão entre as pessoas....
    Forte abraço!

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  5. Todos deveria ler essa postagem: professores, alunos, pais, diretores e comunidade em geral, pois amplia nossos horizontes sobre o assunto.

    Ótimo texto.

    abraços
    Hugo

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  6. Muito legal seu post, otimas informações
    bjos :)

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  7. Excelente texto...joga uma boa luz sobre essa reflexão.

    Volto a repetir que ao entrar em seu blog, não dá mais vontade de fechar...

    Abraços e obrigado pela visita ao sabor da letra!

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  8. Gente, muito obrigado pela visita e pelas lindas palavras...bjoxxxxxxxxx a todos!

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  9. Cacá, tbm pensei nisso e acho q nesse final de semana farei um texto sobre esse tema, esboçando o meu ponto de vista sobre o assunto...Obrigado pela linda presença!

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  10. * concordo com vc Ro Fers;

    *Hugo, meu lindo, tbm concordo com vc, pois textos como estes não poderiam ficar restritos a esfera da net...bjoxxxxxxxxxxxxxx lindão!

    *Evandro, vc é sempre muito gentil, obrigado pela visita viu?! bjoxxxxxxxxx

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  11. adorei layout (já disse aqui? se disse digo novamente!)
    e adorei o texto
    muito elucidativo por sinal
    e veja aqui: http://justoedigno.blogspot.com/2011/01/selo-de-qualidade.html
    postei seu presente

    beijos querido

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  12. Valeu serginho! bjoxxxxxxxxxx no coração!

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  13. As relações sociais baseiam-se em padrões e estes impõe a obediência às regras. Quem não se enquadra nos padrões pré-definidos está fora. Mas isso tudo funcionava para as primitivas sociedades em que era necessário impor regras para um convívio pacífico.
    Num mundo em que as consciências se elevam em busca duma identidade pessoal, todo esse jogo de regras fica obsoleto. É necessário desarticular padrões arreigados duma moral duvidosa e muitas vezes anti-natrual, para que o novo ser-humano se revele em todo o seu esplendor. Até lá continuaremos neste jogo de faz de conta frustrante e carrasco.

    Beijos

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  14. Nem sei o q dizer ManDrag, pois vc falou TUDO! Obrigado pela visita...bjoxxxxxxxxxxxxx

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