Sinto algo correr dentro de casa. Algo
robusto, com braços longos e uma cabeça deformada. Seu vulto remexe a casa
inteira, bate no telhado, cai no chão com um som estrondoso, se arrasta entre
as janelas. Depois para num canto, acuado. Não sabe mais para onde ir. Ele se
deixa cair, enquanto escorre facilmente pela parede, até que seus braços
compridos ocupem toda a quina da mesa e sua cabeça deformada penda debilmente
sobre seu pescoço quase inexistente. Depois de um tempo, quando não mais o
percebo, ele surge. Ele surge em várias maneiras e por vários motivos. Motivos
os quais ainda não compreendo. Já quis e já o mandei embora de minha casa
várias vezes. Mas é bom tê-lo, porque essa casa está quase sempre vazia. Na
verdade, às vezes eu nem estou em casa e o vejo. Ele está nos braços de uma
estátua, deitado, me fitando com olhos que eu não sei a cor. Me perco em outro
pensamento e quando vejo, ele está lá. Numa luzinha branca que aparece no
celular. Não me controlo e corro para vê-lo. Altivo, oculto, dissimulado. Não
sei quem você é, não sei se sua presença é boa, não sei se quero que vá embora.
Essa casa de carne e veias gostaria de te comportar. Mas nessa casa de
sentimentos não tem espaço pra ti. Voa, disforme. Quem sabe um dia tu topes com
a porta fechada. Quem sabe um dia baterás, em vão, nessa porta por que tu antes
costumava entrar e fazer a festa. Quando esse dia chegar, o que você vai fazer?
Bater mais forte na porta? ou dar meia volta-volver?
O PODER CURATIVO DO NATAL << SORAYA JORDÃO
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Nesse período de festas natalinas, borbulham mensagens fofinhas, repletas
de desejos inspiradores e bençãos necessárias. Tudo lindo, carregado de fé, ...
Há um dia
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