28 março 2018


      Definitivamente, somos uma sociedade leiga no quesito artístico, ainda mais quando esta seara percorre caminhos mais políticos pautados na representatividade de determinados grupos e temas, bem como na tomada de discussões pertinentes a toda a população.
      O que se vendeu às massas, e continua sendo manufaturado pela grande mídia, é a arte mais vulgar, mas nem por isso sem valor, apenas mais palatável por não suscitar maiores questionamentos, servindo meramente a degustação momentânea. Isso não seria de todo mal, caso os demais fazeres artísticos tivessem seu lugar ao sol, sobretudo os intimamente carregados de significância dado aqueles que os produzem e o momento histórico em que estão inseridos.
       As Drag Queens fazem parte do grupo dos injustiçados. Renegadas aos guetos das boates, hoje elas transpõem seus limites, levando ao grande público seus talentos, a relevância de seus trabalhos e a coragem de se reinventar no país da intolerância.
      O travestismo com viés artístico é algo bastante antigo e antes da popularização das Drags, era popularmente conhecido como transformismo, pelo menos aqui no Brasil. Sua intenção é bem conhecida: homens vestidos e maquiados com elementos do universo feminino de forma exagerada, com intuito de comicidade, extravagância, capazes de entreter públicos diversos, muitos embora, durante muito tempo, ficaram confinadas aos redutos gays, como boates e bares do gênero.
       Apesar de haver clássicos como o filme “Priscila, a Rainha do Deserto”, elas não conquistaram de imediato o público heterossexual, educado preconceituosamente ao que diz respeito a aparência andrógena desses personagens. Então, durante anos, grandes maquiadores, costureiros, estilistas, viviam vidas duplas: exercendo suas funções pré-definidas durante o dia e, a noite, incorporando a alcunha de mulheres famosas, ou simplesmente aquelas inventadas pelos próprios, para mostrar uma forma de feminilidade artística contida em seus íntimos. Devido ao preconceito, muitos viviam essa misancene em total sigilo.
      Entretanto, quando há verdade no que se faz e, principalmente, capricho, a arte tende a sobreviver as intempéries, alcançando patamares inimagináveis. No caso das Drag Queens, chegar à mídia televisiva foi um grande passo no Brasil. Há décadas elas aparecem timidamente em programas de auditório, com suas performances bem elaboradas, dublagens incríveis e suas primorosas caricaturas.
    Algumas conquistaram espaços como repórter, ganharam destaques em determinados quadros, contrariando todo o conservadorismo de ontem e hoje. Isso só foi possível, além da persistência dessas profissionais, do seu inegável talento, que surgi da mera observação de seus ídolos, fora a autodidata capacidade delas de metamorfosear o ideário feminino em algo contemplável, mas sem o apelo a sexualização do corpo da mulher, ou sua redução aos estereótipos construídos pelo machismo vigente.
     As Drags, ao invés disso, levam em carne e osso um ideal artístico de mulher vivo, como se um quadro ganhasse vida, permitindo ao público tocar, conversar, tirar uma foto com o criador e a criatura ali personificados.
    Evidentemente as influências estrangeiras foram determinantes para a mudança de paradigma do que é ser Drag Queen no país. Essa transformação tem nome, sobrenome e apelido, RuPaul's Drag Race. Esse reality show foi declaradamente um divisor de águas, levando ao grande público a pirotecnia dessas artistas, antes reféns dos poucos universos LGBT´s.
      Para a surpresa dos mais conservadores, aqueles homens travestidos de mulheres, disputando entre si para conquistar o título de a melhor Drag, conquistaram telespectadores para além do público gay, de idades e classes sociais bem distintas. Soma-se a isso a redemocratização do acesso à internet, há a popularização de Drags YouTuber’s, com seus tutoriais impecáveis de maquiagens; outras lançando-se de vez na comédia, com personagens próximos da realidade brasileira; algumas conseguiram se destacar na TV e na rede ao mesmo tempo, seja fazendo shows performáticos, seja como convidadas; outras participam de filmes, seriados, se lançam no mercado da música.
      O que se vê é uma invasão de Drag Queens, com influências bem distintas, de épocas e contextos bem particulares, levando sua arte a um público cada vez mais receptivo, apesar de muitas vezes não compreender bem o que está sendo produzido para seu entretenimento.
      Com a ascensão meteórica da Drag mais famosa do Brasil, Pabllo Vittar, a sociedade se depara com outra face dessas artistas, a música. Antes, a dublagem era o que compunha os espetáculos Drag. Agora muitas delas têm canções próprias, com repertório que agrada gregos e troianos.
      Infelizmente, porém, toda repercussão “repentina” leva muitos a olhar de cara feia para essas artistas, alegando pobreza artística, sobretudo quando há o quesito voz envolvido. Todavia, os opositores focalizam num ponto e desconsideram o todo.
      Muitas Drags cantam mal, assim como muitos cantores não Drags também. A questão não se reduz a isso, mas a representatividade que tais indivíduos proporcionam a milhares de pessoas, que se veem excluídas por uma cultura que invisibiliza certas demonstrações de arte por puro preconceito.
     Decerto, a ausência de talento vocal não pode inferiorizar o cuidado com a construção de um personagem feito exclusivamente para transmitir alegria a todos que o assistem. Ainda mais o poder político-ideológico dessas artistas num Brasil onde qualquer tentativa de macular o que se elaborou como do universo masculino pode resultar em diversas formas de violência, às vezes até morte.
       Aos que se opõem a chegada das Drag Queens ao mercado consumível nacional, não pensem que elas vieram do nada. A trajetória do transformismo em todo o mundo é bem antiga, assim como as razões que levam essas pessoas a se aventurarem em se fantasiar do sexo oposto. Ninguém faria isso se não houvesse um propósito maior.
       E a arte é o lugar onde a nobreza do talento das pessoas mostra sua face mais criativa, através da valentia daqueles que se utilizam do inconformismo para, suavemente, lançar suas críticas à sociedade. Afinal, nada mais imperceptível do que problematizar a realidade por meio da arte.
      É isso que as Drags tem feito há anos: questionar o que é ser homem e mulher; ressignificar os espetáculos teatrais; ri das hipocrisias da sociedade que as aplaude; se infiltrar nos espaços binários e garantir sua morada; apresentar um trabalho sério, custeado muitas vezes pelo próprio bolso, com pouquíssimo ou nenhum retorno financeiro; demonstrar um respeito descomunal pelo palco, pelos artistas que nele estrelaram, oportunizando que outras Drags possam garantir seu lugar na ribalta; além de presentear o público com um misto de arte (dança, música, interpretação, maquiagem, pintura, costura, criação, etc.), digno de grandes artesãos.
       Por tudo isso, as Drag Queens vieram para ficar sim. O quão bom é isso para a sociedade? É cedo dizer.

         Então, só resta o espanto da contemplação.


Laert

Antes de prosseguir, vale o aviso: burrice não é a falta de um conhecimento específico. Um camponês de uma comunidade isolada pode não saber navegar na internet. Mas duvido que você saiba produzir alimento a partir da terra como ele. É impossível saber sobre tudo e a beleza de estar em sociedade é a complementaridade dos saberes, a ponto de precisarmos uns dos outros para sobreviver.
Burro também não é quem separa sujeito e predicado por vírgula. Muita gente não entende isso e desvaloriza a opinião do outro por não compartilhar dos mesmos padrões de fala ou do mesmo universo simbólico. Algumas das pessoas mais sábias que conheci são iletradas. E alguns dos maiores idiotas têm doutorado. Significa que os iletrados são melhores que os doutores? Não. Então, o contrário? Também não. Pois é burrice achar que usar ou não a norma culta da língua é condição para participar do debate público.
Trato aqui da burrice de quem menospreza o conhecimento, seja ele qual for, chegando a odiar quem o detém ou quem busca aprendizado.
Da burrice prepotente e apressada, que xinga um texto ou vídeo na rede sem ter consumido nada além de seu título ou visto o nome do autor ou autora. E, diante das críticas sobre a superficialidade desse comportamento, rosna, dizendo – no melhor estilo Donald Trump – que tudo o que é importante pode ser escrito em uma linha ou um tuíte. Ou que acredita que um produto é ruim simplesmente por não ter ido com a cara do rótulo.
O burro é aquele que vê seu preconceito violento como sabedoria.
Essa burrice, montada na soberba, pensa que já sabe de tudo a ponto de tachar os que discordam de sua visão de mundo como mal informados, comprados ou manipulados sem apresentar dados e fatos que corroborem a crítica. Ou tenta calar as vozes diferentes da sua por encarar a dissonância como ruído e não como música.
Pois a burrice sempre tenta destruir o conhecimento que ameaça jogar luz sobre ela própria.
Antes, se alguém me mostrasse uma imagem de pessoas enlouquecidas em torno de montanhas de livros em chamas, eu me lembraria de ”Fahrenheit 451”, de François Truffaut (1966). No filme, livros são proibidos, sob o argumento de que tornam as pessoas infelizes e improdutivas. Quem lê é preso e ”reeducado”. Se uma casa tinha livros, ”bombeiros” eram chamados para queimar tudo.
Hoje, se me mostrassem uma imagem assim, logo me perguntaria: onde foi desta vez? Algum grupo fundamentalista islâmico, cristão, judeu ou budista? Interior dos Estados Unidos? Neonazistas europeus? África? Coreia do Norte? China? São Paulo, Rio ou uma grande cidade brasileira?
No dia 10 de maio de 1933, montanhas de livros foram criadas nas praças de diversas cidades da Alemanha. O regime nazista queria fazer uma limpeza da literatura e de todos os escritos que desviassem dos padrões impostos. Centenas de milhares queimaram até as cinzas. Einstein, Mann, Freud, entre outros, foram perseguidos por pensarem diferente da maioria. A Alemanha ”purificou pelo fogo” as ideias imundas deles, da mesma forma que, durante a Contra-Reforma, a Santa Inquisição purificou com fogo a carne, o sangue e os ossos daqueles que ousaram discordar de sua interpretação da bíblia.
A burrice também é incapaz de aceitar o próprio erro, transferindo a culpa para o outro. Ou, diante de um questionamento, foge da autocrítica, dizendo que outra pessoa ou partido também faz a mesma coisa. A burrice  não pede desculpa.
Pois a burrice de um indivíduo acha que é absolvida pela burrice de outro indivíduo ou do coletivo.
Nesta semana, a página de um grupo de extrema direita fez uma enquete entre seus seguidores, questionando quem eles ”jamais” votariam para presidente. Muitos interpretaram mal a pergunta e responderam o inverso, em quem votariam. Até aí, tudo bem. Quem nunca?
Então, os administradores da página informaram várias vezes sobre o erro de interpretação. O que fizeram os seguidores? Culparam o grupo por ter feito uma pergunta ”errada”. A certa seria a pergunta de sempre, sem a inversão do ”jamais”, ou seja, aquilo que não levasse à reflexão. Neste caso, pensar foi visto como um erro e tratado como tal.
A burrice não aceita a existência de outra versão que interprete os fatos além da sua. É incapaz de reafirmar sua visão e, ao mesmo tempo, conviver com análises divergentes. Enxerga a opinião alheia como ”notícia falsa” não por desconhecer a diferença entre formatos de textos narrativos e opinativos, mas por não admitir o conteúdo. A burrice de alguns seguidores de políticos que não aceitam a existência de divergências ocorre da direita à esquerda, ou seja, não é monopólio de ninguém.
Isso só vai ser resolvido com a qualificação do debate público. De acordo com o sociólogo Bernard Charlot, um saber só tem valor e sentido por conta da relação que ele produz com o mundo. Quando o debate público for mais qualificado, a pessoa se sentirá mais motivada a procurar se informar melhor e de maneira mais plural a fim de conviver com seus pares nas redes sociais ou mesmo na vida offline.
Ler coisas com as quais concordamos e com as quais não concordamos é um primeiro passo. Ler fontes de informação que não sejam anônimas, ou seja, que se responsabilizam pelo que divulgam, é outro. Preferir fontes que baseiam seus relatos em provas e não em suposições ou teorias da conspiração. Que são gostosas, mas burras.
A escola deve promover debates e reuniões para que todos entendam que tipo de mensagem estão passando a seus filhos – ainda mais neste ano eleitoral. Dois pais ou duas mães que defendam o voto em um candidato X e dois pais ou duas mães que defendam o voto em um candidato Y podem ser convidados para apresentar seus pontos de vista para os alunos em uma turma, de forma respeitosa. Pois a aprender como fazer a discussão de valores com respeito a ideias divergentes é tão importante quanto absorver conhecimento técnico. Quando uma escola fecha os olhos a isso, transmite uma ideia. Em outras palavras, o silêncio não é neutro.
A opinião pública e parte dos intelectuais alemães se acovardaram ou acharam pertinente o fogaréu nazista descrito acima, levado a cabo por estudantes que apoiavam o regime. Deu no que deu. Hoje, vemos muitos se acovardarem diante de ondas burras, intolerantes e violentas frente ao conhecimento. Não, não estou comparando nossa sociedade com a nazista. Apenas dizendo que a burrice pode ser atemporal. E universal.
Como sempre digo: falta amor no mundo, mas falta interpretação de texto. E calmante na água de muita gente.


Sempre que leio um clássico da literatura universal, sinto como se não tivesse captado todas as nuances de suas páginas; como se fosse preciso regressar ao início e reviver aquela leitura para empreender algum conceito palpável a tudo o que deveria ter sido absorvido por mim e permanece flutuando em profusão na minha cabeça. Talvez seja esta a definição mais pungente de ignorância literária a qual fui capaz de esboçar até aqui. Evidentemente que este aparente fracasso interpretativo/compreensivo não se dá em todos os clássicos mas, sobretudo, naqueles que mimeticamente se aproximam da realidade espectral do ouvinte, ferindo-o, tocando-o, revelando os recônditos dos seus segredos mais obtusos, ou, no geral, autorretratando um panorama de passionalidade que muito se assemelha ao recriado pelo enredo, mesmo sendo necessário guardar as devidas proporções entre a obra e este humilde leitor. Decerto, a paixão ensandecida de Humbert Humbert pela Lolita resgatou profundamente em mim as nuances deste sentimento.

Vindo de relações mal sucedidas no Velho Mundo, Humbert se vê hipnotizado pela pequena Dolores Haze, uma garota de doze anos, que desperta nele os pensamentos mais lascivos, mas nunca levados a completude da cópula tradicional. Dessa alucinação, uma série de acontecimentos faz do cínico personagem, o lastimável sofredor, lânguido, determinado, sanguinário amante/padrasto/companheiro da garota. Seu cinismo merece relevante atenção porque dele deriva toda a empatia criada pelo narrador, numa controversa jogatina literária a qual nos faz compadecer diante da desfaçatez das atitudes de Humbert, tratando-o, a priori, não como um obsceno senhor de meia idade, abusador de menores – e que ao longo da narrativa ganha outros simulacros criminosos – mas como um louco apaixonado, irremediável em suas ações e nem por isso indigno de realiza-las. É como se a insolência dos atos infligidos aquela menina fossem menos importantes do que sentimento urgente vivenciado pelo personagem ora narrador em sua sofreguidão.

Não obstante, não podemos incorrer pelo risco que categorizar a obra em algum limiar estritamente erótico, como fora deveras feito em sua época de publicação. Eu mesmo calhei nesta falha mesmo antes de folhear as primeiras páginas do romance. Se serve de justificativa, meu engano se deve a forma como Lolita é perpassada por alguns leitores, editoras e o senso comum, todos desavisados sobre as tramas envoltas no livro, ou desrespeitosamente desvirtuando-a para, a partir de uma polêmica pífia, atrair mais vendagens ao clássico, artificio por si só vulgar, que provavelmente suscitaria a revolta do autor, caso este estivesse neste plano. O correto, porém, é afirmar que Lolita nem de longe passa a fazer parte de uma obra obscena, mesmo que olhares mais puritanos consigam encontrar indícios disso. É um romance de paixão e loucura, metáforas e clarezas, encontro entre mundos físicos, sociais e psicológicos, trazendo à tona uma profundo entendimento dos desejos humanos, não apenas os sexuais, mas também outros tão abstratos tanto, sem enveredar para os legados, às vezes clichês, das meras reflexões.

Das poucas obras lidas até agora, poucos livros me proporcionaram momentos tão risíveis quanto Lolita. Meu riso vinha naturalmente em várias passagens, ora de maneira incontrolável, ora por incômodo, por mero compacto de ideais, por desdenhosa similaridade com o que vivenciava o personagem; muitas vezes era um arquejar de dentes autômato, como se o autor quisesse arrancar do leitor alguma comicidade capaz de safá-lo do seu total impudor. Não entendam risos aqui como gargalhadas, analisando precipitadamente a obra como burlesca. Não seria verdade. O cômico funciona como justificativa, mais um dos muitos recursos de Humbert Humbert para permanecer a cabo dos seus planos amorosos, mesmo que para isso precise se utilizar de uma sutil comédia. Funciona. Em meio às barbaridades feitas pelo autor, esquecemo-nos temporariamente de suas ações quando somos confrontados por seu senso de humor, refinado, mordaz e definitivamente descarado.
Refinamento que se atribui também a linguagem. 

Uma das possíveis dificuldades que o leitor amador (eu me incluo neste bojo) vai encontrar são as constantes passagens em francês perfiladas pela obra. São muitas, desde pequenas frases até parágrafos inteiros escritos naquele idioma. Para os não familiarizados noutra língua, haverá uma ligeiro impedimento em compreender certos enunciados. Outros, porém, o contexto poderá ser de grande ajuda. Entretanto, mesmo sem uma ou outra alternativa, o leitor não ficará flanando sobre o enredo, pois sua totalidade nos dá material suficiente para que o entendamos. A questão vocabular foi outro ponto que me chamou muito atenção. Poucas obras lidas trazem um léxico tão rico em apenas trezentas e poucas páginas, sem necessariamente soar verborrágico, algo muito comum entre obras cujo pedantismo linguístico inibe o melhor entendimento da narrativa. Então, caso você não seja grande conhecedor da língua, mas apenas um amante dela, um caçador de códigos como eu, vai certamente aprender muito com a parte vocabular desse romance.

Seja como for, Lolita requer mais tempo de leitura e releitura. Acredito que essa será uma obra da qual eu terei de ler, reler e reescrever mais cautelosamente para merecer uma resenha da grandiosidade de sua inventividade. Por ora, o que está aqui é um esboço qualquer de um leitor canastrão, iniciante, como um adolescente que se delicia dos primeiros prazeres da vida sem saboreá-los parcimoniosamente. O que sei é que precisava expor as medíocres sensações despertadas em mim a partir da leitura dessa obra. Retomando a minha incapacidade de preencher todas as lacunas abertas pelos clássicos, percebo a cada leitura deles que estou perto do longínquo entendimento do quão importante é a literatura universal para a transcendência humana. Somos muito pequenos sem esta forma de arte, que nos desperta questões sensoriais incalculáveis. Talvez por isso sua imortalidade se justifique, não apenas pelos mecanismos literários ricos ou originais de seus autores, mas pela impecável capacidade de narrar em algumas páginas questões atemporais, que apenas mudam de cara, época e corpo físico, mas continuam vívidas em nossas essências selvagemente humanas a servir de inspiração.


Circle lenses, já ouviu falar? É uma lente de contato que faz a sua íris parecer maior, dando a impressão de olhos grandes e mais atraentes. Uma amiga ia sair com um cara do Tinder e resolveu usar um par pra deixar o olhar mais instigante. Me mandou foto dos olhos dela, com e sem a lente, pra eu ver a diferença.
Daí eu pensei, bicho, as minas vão longe demais pelos caras. E às vezes nem é por um cara que é o amor da vida dela, é só uma trepada casual. Essa amiga, além de embelezar a íris, tinha se munido de todo um arsenal de maquiagem importada, uma boa lingerie, unhas recentemente pintadas, um vestido novo e ia ficar montada a noite toda em cima de saltos de nove centímetros, onde ela equilibraria um metro e sessenta e nove de corpo totalmente depilado à pinça e cera quente.
Diante dessa perspectiva de todo um estica-e-puxa pra ficar bonita pro coito, eu fiquei curiosa a respeito do que os caras faziam quando iam encontrar mulheres em quem eles tinham interesse sexual (ou quando já sabiam que a jiripoca iria piar na noite vindoura), porque do lado de cá do gênero, uma bimbadinha casual parecia uma epopeia. Perguntei pra uns 15 amigos meus a respeito. A resposta deles foi bastante consistente e o ritual de todos era quase idêntico:
·         Tomar um banho
·         Fazer a barba (não vale para os barbudos, que por sua vez davam aquela ajeitadinha)
·         Passar desodorante e perfume
·         Usar uma cueca em bom estado
Os mais dedicados acrescentavam uma aparada na região pubiana, corte das unhas e arrumavam o cabelo. Um disse que tirava a monocelha.
Pois bem. Há algum tempo atrás, eu decidi que esse seria todo o esforço que eu faria pra transar com um cara: o mesmo esforço que um cara comum faz pra transar com uma mulher. Pouca ou nenhuma maquiagem (desapeguei do delinador babadeiro), sem salto, sem depilar o corpo, sem pintar as unhas. Olha, você até pode adorar fazer a Lupita Nyong’o no Oscar de 2014 pra todos os caras com quem você sai, não tem problema nenhum. A questão aqui é: você não é obrigada. Isso nem devia ser esperado de você. Porque o que é esperado dos homens é seu estado natural, mas uma mulher em seu estado natural é considerada uma imitação ruim de homem. Feminilidade é sinônimo de artifício.
Veja, isso tem a ver com o mundo inteiro te dizendo que, a princípio, você está feia. Que seu corpo está errado. Que você não está sendo suficientemente alguma-coisa. A gente fura a orelha pra pendurar brinco antes de saber andar. E daí pra frente isso destrambelha de um jeito tal que quando chegamos aos 20 estamos pagando por serviços estapafúrdios, como permanente de cílios. Em 2014as brasileiras lideraram o ranking mundial de cirurgias pra diminuir os lábios vaginais (quem falar que a gente faz isso porque quer, volta dez casas e passa duas rodadas lendo um livro-texto de sociologia).
Enfim, voltando ao meu novo mantra, ele causou um efeito surpreendente nos meus relacionamentos com homens: nada mudou. Eu continuei saindo com homens. Continuei namorando homens e transando com homens. A única diferença relevante é que, como num passe de mágica, me livrei dos caras que transavam mal.
O sexo era mais gostoso. Mais carinhoso, mais safado, mais bambeador de perna. Não tinha frescura. Esses caras, inclusive, eram muito mais seguros sobre aquilo que gostavam e não tinham medo de pedir. Dava pra ver que eles sentiam tesão no meu prazer. Eles também tinham três importantíssimas vantagens sobre os outros: nunca tinham frescura com uso de camisinha (ela sempre estava lá e sempre era usada); sempre faziam sexo oral; e não fizeram perguntas ou comentários desnecessários a respeito do tamanho do pau deles.
Outra vantagem enorme de abandonar esses rituais feitos pra entreter homens que provavelmente não saberão te chupar é que você economiza tempo, dinheiro e sofrimento (uma depilação a cera de axilas+virilha+pernas não sai por menos de R$70, sangue, suor e lágrimas). Então, proponho esse exercício: pare de se importar tanto com o que o mundo espera da sua aparência. Você não gosta do cara do jeito que ele é? Com a barba que cresce irregularmente, umas 3 espinhas na cara e o tênis velho de guerra todo arregaçado? Então por que ele, do alto de sua naturalidade, só conseguiria gostar de uma boneca toda trabalhada em primer redutor de poros e micropigmentação na sobrancelha?
No fim das contas, isso não é  sobre sexo ou homens, isso é sobre quebrar essa ideia tóxica de que você não está aceitável como mulher enquanto não alterar a sua aparência. Lembre-se que existem poderosos executivos comprando carros e iates caríssimos com a grana que a gente gasta em tubos de creme para celulite (que não fazem nenhum efeito, sabemos). Faça-se um favor e dê à esses caras um sincero "foda-se". Eles provavelmente fodem mal também.

Visto no: MEDIUM


Na Antiguidade, a imagem se inseria, ainda mais profundamente que a escrita, na vida cotidiana, recontando narrativas míticas e familiarizando seus integrantes uns com os outros através de representações de situações idealizadas e vivenciadas. A visão da nudez, mesmo em imagem, por estar sempre pronta a despertar emoção erótica, parece dificilmente compatível com a suposta pureza da contemplação estética. Mas, sem dúvida, sem o poder de Eros, não haveria nem escultura, nem pintura. O interesse tão especial dispensado na arte à nudez do corpo humano é complexo, logo, impuro: para aqui convergem todos os instintos elementares, todas as pulsões obscuras, assim como todos os subterfúgios e todo o sucesso da sublimação. É por isso que o Nu é o tema artístico por excelência: motivo de fervor, oportunidade de entusiasmo e, às vezes, em certos casos cruamente realistas, sujeito à compaixão, objeto de repulsa fascinada, símbolo de obscenidade.
Durante a Idade Média europeia, dizem, apenas nos banhos públicos era permitido se mostrar sem roupa. Em qualquer outro lugar, nada de nudez. Não podia ser vista em lugar nenhum, nem mesmo na pintura. Quase que nada na escultura. A responsabilidade por esta privação costuma ser atribuída ao cristianismo. Ao contrário do paganismo helênico e romano que a precederam, esta religião, rigorosa e obstinada, pregou por mais de mil anos a depreciação do corpo, o desprezo pela carne e a proscrição da nudez. Tal é a reputação que lhe foi atribuída, e há, certamente, alguma verdade nesta ideia geral. Quando o homem e a mulher aparecem nus em certas representações medievais, pois isso acontece, percebemos que se sentem extremamente constrangidos. A nudez, nessa época, é antes de tudo a dos nossos primeiros antepassados, disformes, dignos de pena, depois do pecado. Em seguida, vem aquela dos condenados, que vemos cair no Inferno por ocasião do Juízo final. O corpo sem vestes é patético: corpo vergonhoso de Adão e Eva, corpo atormentado dos malditos; ou, então, o corpo supliciado do Cristo, e os corpos torturados, de vários modos, dos mártires. Não simplifiquemos: existe também, podia existir, nesses tempos austeros, uma nudez feliz, sinal de inocência, a gozar, com toda a candura, dos benefícios inauditos do paraíso terrestre. Mas a desgraça é sempre iminente. Como a Europa olhava para alhures de forma completamente exótica – para não dizer “estranha” – franceses e holandeses que retratavam nossa terra e seus primeiros habitantes, pintavam-lhes sempre na presença de frutas, cestos, tartarugas e tatus. Coisas que o europeu não conhecia. Mas isso não era fator de burrice por parte dos homens brancos. Ao contrário: o retrato da miséria da terra brasilis estava agora ligado ao nu.
Nos tempos da Idade Moderna, podemos ressaltar as duas visões completamente opostas sobre esse assunto: a pureza\inocência – já que foi citada - e a pobreza\selvageria. Para falar do primeiro ponto, é necessário que se faça um levantamento das características do Renascimento Cultural. Sabe-se que o controle da produção cultural e o poder ideológico eram detidos pela Igreja Católica desde o medievo e norteavam a vida dos europeus. Por isso, os valores teocêntricos que exaltavam o poder de Deus, bem como os preceitos do catolicismo romano, sempre preponderaram as produções artísticas até então. Porém, a reformulação do pensamento artístico e científico trazida pela Renascença Italiana mudaram completamente os modelos de fazer arte. Ao retomarem os apegos artísticos greco-romanos, os renascentistas como Michelangelo, Da Vinci e Rafael Sanzio, decidiram pintar homens e mulheres de uma forma que pudesse representar a pureza e o caráter divino dos seres humanos. Por isso, em obras como Davi, o homem sempre era representado com um pênis pequeno, pois, se, baseados no antropocentrismo e no humanismo, o macho se aproxima ou até mesmo é sua própria divindade, por que dar um caráter bestial a algo tão sacro¿ Não era vergonha na época do Renascimento mandar um “nude” se você era “bisquí”. Era divino.
A Renascença também trouxe avanços científicos e, não se pode deixar de destacar, o consequente desenvolvimento das artes náuticas. Em 1415, Portugal se lança no tão temido “Além-Mediterrâneo” para descobrir novas terras e angariar novas fontes de riqueza para a Coroa. 22 de abril de 1500, a tão “desconhecida” Terra de Vera Cruz passa a ser explorada e antes mesmo que se chegasse à beira da praia, “seis ou sete homens nus, sem qualquer vergonha andavam por ali”, como escreveu Pero Vaz de Caminha em sua carta. Retomando pensamentos tidos como “neoplatônicos”, o bom e o belo se interligavam pela pureza dos corpos de uma comunidade que não conhecia a fonte dos pecados sexuais, exatamente por não terem cognição daquilo que educava o europeu. O “índio” por não conhecer os preceitos do povo cabralino e, mais tarde, anchietano, andavam nus o tempo inteiro porque eram inocentes. Puros...não, não. Aí já é demais. Manuel da Nóbrega, em tempos de catequese, pedia a seus superiores em cartas “panos para cobrir as vergonhas dos selvagens desta terra”. O erotismo e a sexualidade não eram colocados aí. Apenas a inocência e, consequentemente, pela ausência da tardia educação cristã-europeia, uma visão transformada do nu: receptáculos muito fáceis de forças diabólicas.
Pulemos para a ponte da contemporaneidade e das pós-modernidade. A mulher, paulatinamente, cresce dentro da sociedade e com isso vem seu empoderamento: o grito mais audível referente a tal assertiva é o quadro “A liberdade guiando o povo”, obra que retrata a Revolução Francesa. O sentimento de ser livre é associado a uma mulher mostrando os seios. Eu vejo isso como um “nude”, afinal o que é um nude senão algo que choca, excita, anima, traz risada ou, até mesmo, vergonha? Ver a liberdade representada por uma mulher que expunha os seios é tudo, menos, conservador para a virada do século XVIII-XIX. Era o maior exemplo de como se viver sem ninguém – Igreja, Estado ou qualquer outra instituição – dizer que roupa você deve vestir ou SE deve vestir. Mulheres...tão estigmatizadas desde Eva e, por isso, maquiadas por uma falsa máscara de subversão, quando na realidade, são revolucionárias. O século XX esteve aí para nos mostrar que, mesmo num mundo dividido pelas incertezas do capital e do social, lá estavam as mulheres queimando seus sutiãs, andando nuas e dizendo “we can do it!”. Embora, em alguns casos, não terem ateado fogo nas suas peças íntimas, que nude inflamável, hein? O corpo e o nu, mais uma vez, representavam assim o novo, o poder e a vontade mais que possível de serem livres de qualquer opressão.
E Bauman já nos fala dessa sociedade líquida da pós-modernidade, na qual as coisas são fluidas como água e que, para o bem ou para mal, são aproveitadas. Com esse mundo, vem os smartphones, as redes sociais e, em especial, o Snapchat. Dois, três, cinco ou até 10 segundos de provocação podem ser liberados com um nude. Muitos se escondem atrás da tela do celular, já outros, sequer precisam disso. O nu, para muitos, ainda é motivo de vergonha. Para outros, mandar um nude é algo natural, excitante, engraçado...e, porque não, libertador para um passo além das câmeras. Os modelos que pintam o corpo estão aí também para provar que a nudez pode ter suas diversas faces em ganhar o pão de cada dia, afinal, é necessário materializar os discursos e “meu corpo, minhas regras”. Meu nude, então, oras. “Não se tem muito o que falar da nudez nos tempos atuais, afinal é algo tão banal”, dizem. Sorte seria se essa nudez fosse ligada à inocência e não fosse fonte de suplantar, abusar e desvalorizar o próximo. E a sociedade brasileira acha que está acostumada com o corpo nu por causa dos avanços cibernéticos e o por conta do próprio nude em si. Coitados dos brasileiros. Não falamos nem em sair sem blusa por aí, mas no dia em que – e o problema é seu se você não aceita e tenta mascarar a realidade rasteira do seu país – meninas andarem mostrando apenas a barriga ou usarem um short não forem alvos de violação...o nude, então, será fichinha e algo completamente normal. Sem medos, sem vergonha, sem abuso, sem nada...ops! Nude.
Os nudes são estupendos, sob vários pontos de vista. De um modo geral, para cada flash acionado, uma parte da obra foi escolhida. Foi isolada, ampliada e os filtros são usados. Essa focalização inabitual faz surgir vários detalhes nunca vistos, vários aspectos nunca percebidos dessa maneira. Ele, o nude, cria, de certa forma, seu objeto. E mais, em certos casos, o fato de o olho ter se aproximado produz algo de perturbador. O olhar está muito próximo de uma carne doce e firme. Não se poderia estar mais próximo de uma carnação milagrosa. Prestes a tocar a pele nua. E o que vemos? Depende.
E aí...manda nudes?



Sugerir alternativas para criar uma criança é sempre desafiador. Para mães e pais de primeira viagem, os desafios vão do amadorismo às interferências alheias, sempre dispostas a ofertar as melhores dicas, indicar as melhores rotas, jeitos, profissionais e técnicas para a formação destes pequenos indivíduos. Mais complexo ainda na criação é confrontar a tradicionalidade dos moldes como vem sendo feito, trazendo uma roupagem mais autônoma para todos os envolvidos, sobretudo aqueles recém chegados ao mundo. Porém, ao invés disso, o “sucesso” do modelo antagônico é superestimado por aqueles alheios às mudanças, principalmente quando estas põem em cheque valores vistos como imutáveis pelos mais conservadores. Então, devido a árdua gama de opiniões, entre o embate do velho e do novo, o primeiro ainda sai à frente por ser visto como protótipo perfeito para o que veio se considerando como o ideal para a convivência social. Assim, nossas crianças, antes mesmo de terem o direito de questionar algo, são sentenciadas a esquemas estratificados, que quanto mais demoram a tomar ciência, mais difíceis são de serem modificados.

O curtíssimo manifesto Para Educar Crianças Feministas busca preencher essa lacuna. Mesmo possuindo um título provocativo, a meu ver o livro não pretende fabricar minis feministas, tão pouco se restringir ao universo feminino de forma panfletária. Antes de tudo, é preciso entender que falar de Feminismo é falar sobre pessoas, homens e mulheres, héteros, gays, bissexuais, travestis e transexuais, brancos e negros, pobres e ricos, militantes ou não. Pessoas e suas embrincadas relações sociais. Ou seja, trata-se de uma educação polissêmica capaz de desintegrar o sexismo vigente em nossa sociedade, responsável por afetar especialmente as mulheres, mas também tantas outras minorias existentes. Para isso, a autora dá quinze sugestões preciosas para uma amiga, que está grávida de uma menina, de como criar a sua filha como feminista. Uma tarefa muito complexa, sobretudo na conjuntura atual vivida pelo mundo. Entretanto, Adichie faz um belo apanhado de dicas, de forma clara e direta, oferecendo a amiga, e a nós leitores, uma farta gama de possibilidade para a formação de meninos e meninas.

Mas para que criar crianças feministas? Talvez seja essa a pergunta feita pelos mais reacionários, dispostos a contrapor a importância do livro, ou pior, descontextualizá-lo da sua inegável atualidade. Uma das respostas mais diretas que eu posso oferecer é porque é preciso. É preciso porque a criação desigual entre os sexos tem sido nociva para a construção desses indivíduos ao longo da vida; é preciso porque a questão da descoberta sexual, sexualidade, prazeres e maturação são vistas como tabus, principalmente para elas; é preciso porque incutam nas meninas ainda a ideia de subserviência, delicadeza, inferioridade e desproteção, diferente dos meninos, que desde cedo são educados a estar no controle, serem fortes, superiores e provedores de tudo, inclusive delas; é preciso porque há toda uma indústria que lucra muito com a segregação do gênero, que começa distinguindo a cor que cada criança deve usar na infância e vai até a questão da moda, do mercado de trabalho, política e empoderamento; é preciso porque o momento atual, muito mais que politicamente correto, é de questionar, revisitar certas práticas, as quais por séculos foram vistas como meras condutas biológicas, ressignificando-as aos anseios dos indivíduos modernos.

Apenas por isso já seria suficiente ler Para Educar Crianças Feministas. Porém, mesmo o livro sendo de sugestões para uma amiga da autora prestes a ser mãe na época, serve também de esclarecimento para aquelas e aqueles que não são, ou não serão, mães e pais. Para pessoas que convivem com crianças em casa e se defrontam com situações semelhantes relatadas por Adichie. Serve indubitavelmente para educadores, pedagogos, profissionais estes que em muitas circunstâncias exercem o papel materno/paterno por inúmeras razões. Auxiliaria pediatras, psicólogos e terapeutas infantis a tratar determinados assuntos que possam fugir da capacidade dos responsáveis legais pela criança. Outrossim, é de enorme relevância para a formação de indivíduos mais plurais, desprovidos daqueles preconceitos ancestrais responsáveis por sobrecarregar as mulheres de valores morais imutáveis, ao passo que aos homens sempre foi dada uma liberdade irrefletida, apenas naturalizada por preceitos biológicos, religiosos e morais, todos passíveis de mudanças a curto, médio e longo prazo caso haja um modelo educacional destinado a tais mudanças.

Evidentemente, os contrários aos ideais feministas olharão para este pequeno livro com desconfiança, tratando de desacreditar a pauta exposta pela autora. No Brasil de hoje é bem possível que isso ocorra. Há uma resistência de muitos setores da sociedade em entender o feminismo, legitimá-lo em toda a sua dinâmica, mais ainda em aplicá-lo devidamente na sociedade, sobretudo entre os mais jovens, ou aqueles que mal garantiram o seu lugar entre nós. Para Educar Crianças Feministas vai garantir que haja mais espaço para a aplicabilidade dos preceitos feministas, problematizando as realidades distintas vividas por homens e mulheres de modo que se possa buscar uma igualdade justa para todos os envolvidos. Nada mais sensato do que a infância ser o ponta pé inicial desta discussão. É nessa fase da vida que se edifica as bases que nos manterão inseridos na sociedade. Logo, quando a estrutura é erigida a partir de uma educação sólida, plural, unilateral, focada na transformação dos indivíduos, o resultado disso é uma sociedade menos sexista, onde o machismo e suas reminiscências pouco a pouco vão perdendo espaço.

Eu fiquei muito animado com a iniciativa deste livreto. Confesso que já havia visto algo sobre a autora nas redes sociais e um ou outro trecho de vídeo dela no YouTube tão pequenos quando essa obra. Mas ler sua pauta me fez reforçar algo que já havia de militante dentro de mim, por fazer parte de outra minoria da qual também sofre com os dissabores do sexismo. Suas palavras me incentivaram a reafirmar a luta feminista por uma sociedade onde todos tenham os mesmos direitos, deveres, sonhos, desejos, reconhecimentos, capacidades e oportunidades de ser e existir. Tenho total ciência de que não possuo o lugar de fala das mulheres, as quais são inquestionavelmente as protagonistas dessa pauta por sofrerem mais do que os demais nessa questão do machismo, sexismo, etc. Porém, obras dessa natureza vão além dessa premissa do direito à fala. Trata-se de agregar valor ao buscar alternativas práticas para a resolução de um problema que afeta a todos. É a pura constatação de que apenas a conscientização prematura, neste caso na tenra idade, é o caminho mais eficaz para educar crianças mais plurais enquanto os adultos precisam ser reeducados urgentemente por extensão. 


Dia 8 de março seria um dia como qualquer outro, não fosse pela rosa e os parabéns. Toda mulher sabe como é. Ao chegar ao trabalho e dar bom dia aos colegas, algum deles vai soltar: “parabéns”.
Por alguns segundos, a gente tenta entender por que raios estamos recebendo parabéns se não é nosso aniversário (exceção, claro, à minoria que, de fato, faz aniversário neste dia). Depois de ficar com cara de bestas, num estalo a gente se lembra da data, dá um sorriso amarelo e responde “obrigada”, pensando: “mas por que eu deveria receber parabéns por ser mulher?”
Mais tarde, chega um funcionário distribuindo rosas. Novamente, sorriso amarelo e obrigada. É assim todos os anos. Quando não é no trabalho, é em alguma loja. Quando não é numa loja, é no supermercado. Todos os anos, todo 8 de março: é sempre a maldita rosa.
Dizem que a rosa simboliza a “feminilidade”, a delicadeza. É a mesma metáfora que usam para coibir nossa sexualidade — da supervalorização da virgindidade é que saiu o verbo “deflorar” (como se o homem, ao romper o hímen de uma mulher, arrancasse a flor do solo, tomando-a para si e condenando-a. Afinal, depois de arrancada da terra, a flor está fadada à morte). É da metáfora da flor, portanto, que vem a ideia de que mulheres sexualmente ativas são “putas”, inferiores, menos respeitáveis.
A delicadeza da flor também é sua fraqueza. Qualquer movimento mais brusco lhe arranca as pétalas.  Dizem o mesmo de nós: que somos o “sexo frágil” e que, por isso, devemos ser protegidas. Mas protegidas do quê? De quem? A julgar pelo número de estupros, precisamos de proteção contra os homens. Ah, mas os homens que estupram são psicopatas, dizem. São loucos. Não é com esses homens que nós namoramos e casamos, não é a eles que confiamos a tarefa de nos proteger.  Mas, bem,  segundo pesquisa Ibope/Instituto Patricia Galvão, 51% dos brasileiros dizem conhecer alguma mulher que é agredida por seu parceiro. No resto do mundo, em 40 a 70 por cento dos assassinatos de mulheres, o autor é o próprio marido ou companheiro. Esse tipo de crime também aparece com frequência na mídia. No entanto, são tratados como crimes “passionais” — o que dá a errônea impressão de que homens e mulheres os cometem com a mesma frequência, já que a paixão é algo que acomete ambos os sexos. Tratam os homens autores desses crimes como “românticos” exagerados, príncipes encantados que foram longe demais. No entanto, são as mulheres as neuróticas nos filmes e novelas. São elas que “amam demais”, não os homens.
Mas a rosa também tem espinhos, o que a torna ainda mais simbólica dos mitos que o patriarcado atribuiu às mulheres. Somos ardilosas, traiçoeiras, manipuladoras, castradoras. Nós é que fomos nos meter com a serpente e tiramos o pobre Adão do paraíso (como se Eva lhe tivesse enfiado a maçã goela abaixo, como se ele não a tivesse comido de livre e espontânea vontade). Várias culturas têm a lenda da vagina dentata. Em Hollywood, as mulheres usam a “sedução” para prejudicar os homens e conseguir o que querem. Nos intervalos do canal Sony, os machos são de “respeito” e as mulheres têm “mentes perigosas”.  A mensagem subliminar é: “cuidado, meninos, as mulheres são o capeta disfarçado”. E, foi com medo do capeta que a sociedade, ao longo dos séculos, prendeu as mulheres dentro de casa. Como se isso não fosse suficiente, limitaram seus movimentos com espartilhos, sapatos minúsculos (na China), saltos altos. Impediram-na que estudasse, que trabalhasse, que tivesse vida própria. Ela era uma propriedade do pai, depois do marido. Tinha sempre de estar sob a tutela de alguém, senão sua “mente perigosa” causaria coisas terríveis.
Mas dizem que a rosa serve para mostrar que, hoje, nos valorizam. Hoje, sim. Vivemos num mundo “pós-feminista” afinal. Todas essas discriminações acabaram! As mulheres votam e trabalham! Não há mais nada para conquistar! Será mesmo? Nos últimos anos, as diferenças salariais entre homens e mulheres (que seguem as mesmas profissões) têm crescido no Brasil, em vez de diminuir. Nos centros urbanos, onde a estrutura ocupacional é mais complexa, a disparidade tende a ser pior. Considerando que recebo menos para desempenhar o mesmo serviço, não parece irônico que o meu colega de trabalho me dê os parabéns por ser mulher?
Dizem que a rosa é um sinal de reconhecimento das nossas capacidades.  Mas, no ranking de igualdade política do Fórum Econômico Mundial de 2008, o Brasil está em 100º lugar entre 130 países. As mulheres têm 11% dos cargos ministeriais e 9% dos assentos no Congresso — onde, das 513 cadeiras, apenas 46 são ocupadas por elas.  Do total de prefeitos eleitos no ano passado, apenas 9,08% são mulheres. E nós somos 52% da população.
A rosa também simboliza beleza. Ah, o sexo belo. Mas é só passar em frente a uma banca de revistas para descobrir que é exatamente o contrário. Você nunca está bonita o suficiente, bobinha. Não pode ser feliz enquanto não emagrecer. Não pode envelhecer. Não pode ter celulite (embora até bebês tenham furinhos na bunda). Você só terá valor quando for igual a uma modelo de 18 anos (as modelos têm 17 ou 18 anos até quando a propaganda é de creme rejuvenescedor…).  Mas mesmo ela não é perfeita: tem de ser photoshopada. Sua pele é alterada a ponto de parecer de plástico: ela não tem espinhas nem estrias nem olheiras nem cicatrizes nem hematomas, nenhuma dessas coisas que a gente tem quando vive. Ela sorri, mas não tem linhas ao lado da boca. Faz cara de brava, mas sua testa não se franze. É magérrima (às vezes, anoréxica), mas não tem nenhum osso saltando. É a beleza impossível, mas você deve persegui-la mesmo assim, se quiser ser “feminina”. Porque, sim, feminilidade é isso: é “se cuidar”. Você não pode relaxar. Não pode se abandonar (em inglês, a expressão usada é exatamente esta: “let yourself go”). Usar uma porrada de cosméticos e fazer plásticas é a maneira (a única maneira, segundo os publicitários) de mostrar a si mesma e aos outros que você se ama. “Você se ama? Então corrija-se”. Por mais contraditória que pareça, é essa a mensagem.
Todo dia 8 de março, nos dão uma rosa como sinal de respeito. No entanto, a misoginia está em toda parte.  Os anúncios e ensaios de moda glamurizam a violência contra a mulher. Nas propagandas de cerveja e programas humorísticos, as mulheres são bundas ambulantes, meros objetos sexuais. A pornografia mainstream (feita pela Hollywood pornô, uma indústira multibilionária) tem cada vez mais cenas de violência, estupro e simulação de atos sexuais feitos contra a vontade da mulher. Nos videogames, ganha pontos quem atropelar prostitutas.
Todo dia 8 de março, volto para casa e vejo um monte de mulheres com rosas vermelhas na mão, no metrô. É um sinal de cavalheirismo, dizem. Mas, no mesmo metrô, muitas mulheres são encoxadas todos os dias. Tanto que o Rio criou um vagão exclusivo para as mulheres, para que elas fujam de quem as assedia. Pois é, eles não punem os responsáveis. Acham difícil. Preferem isolar as vítimas. Enquanto não combatermos a ideia de que as mulheres que andam sozinhas por aí são “convidativas”, propriedade pública, isso nunca vai deixar de existir. Enquanto acharem que cantar uma mulher na rua é elogio, isso nunca vai deixar de existir. Atualmente, a propaganda da NET mostra um pinguim (?) dizendo “ê lá em casa” para uma enfermeira. Em outro comercial, o russo garoto-propaganda puxa três mulheres para perto de si, para que os telespectadores entendam que o “combo” da NET engloba três serviços. Aparentemente, temos de rir disso. Aparentemente, isso ajuda a vender TV por assinatura. Muito provavelmente, os publicitários criadores dessas peças não sabem o que é andar pela rua sem ser interrompida por um completo desconhecido ameaçando “chupá-la todinha”.
Então, dá licença, mas eu dispenso essa rosa. Não preciso dela. Não a aceito. Não me sinto elogiada com ela. Não quero rosas. Eu quero igualdade de salários, mais representação política, mais respeito, menos violência e menos amarras. Eu quero, de fato, ser igual na sociedade. Eu quero, de fato, caminhar em direção a um mundo em que o feminismo não seja mais necessário.


*Marjorie Rodrigues é jornalista pela USP e mestre em estudos de gênero pela Universidade Centro-Europeia (Budapeste) e Universidade de Utrecht (Holanda), onde mora. Já trabalhou na Reuters, Editora Globo, Transparência Brasil e revista Pais e Filhos, entre outros. Nas horas vagas, participa de um grupo de improvisação teatral com outros imigrantes vivendo em Utrecht, se vira nos 30 tentando aprender a língua holandesa e escreve blogs pessoais e no Brasil Post. Quando tudo isso cansa demais, ela vai afofar o Hugo, o namorado que a inspirou a ficar na terra das tulipas e é a prova de que mães feministas criam parceiros bacanas.

Visto no: AZMINA

Sylvia Debossan Moretzsohn
Professora aposentada de jornalismo na UFF, pesquisadora do ObjETHOS
É um vídeo forte, poderoso, cortante: sobre a imagem noturna e estática do temporal na cidade, as vozes se sobrepõem para falar que o Rio de Janeiro CHORAVA com a notícia de “mais uma mulher ASSASSINADA”; porém, “não apenas uma MULHER”, “mas uma mulher NEGRA”, “uma MILITANTE”, que movia estruturas e foi “EXECUTADA a sangue frio”, e apela: “GENTE, PAREM DE MATAR A GENTE, esse assunto é URGENTE. MARIELLE, PRESENTE”.
O vídeo original termina assim. Mas, ao final do Jornal Nacional do dia seguinte à execução da vereadora Marielle Franco, do PSOL, numa ação que vitimou também seu motorista, Anderson Pedro Gomes, esse vídeo foi exibido com o acréscimo deste texto: “Esta homenagem a Marielle Franco foi feita por Ana de Cesaro e circulou na internet. Agora está sendo mostrada para todo o Brasil. Para que seja uma homenagem e também um alerta. Tudo começa pelo respeito. À vida”.
Estudiosos de linguística e comunicação teriam aqui um prato cheio para discorrer sobre essa manobra discursiva muito óbvia: um vídeo que circula “na internet” – ou seja, potencialmente, no mundo inteiro – finalmente é apresentado a um país. Pela Globo, que é – com trocadilho – a voz do Brasil.
Mas isso é o de menos. O principal é o que essa manobra revela como apropriação do discurso de protesto contra a execução de uma vereadora jovem, negra, “cria da favela” (da Maré), que estreava na Câmara um mandato promissor, com votação surpreendente – foi a quinta mais votada em 2016, com mais de 46 mil votos – e se dedicava à denúncia da violência contra os marginalizados de modo geral, com uma atuação que expressava múltiplas causas identitárias associadas à questão fundamental do pertencimento de classe.
Certamente tudo começa pelo respeito à vida, mas estas serão apenas belas palavras se desprovidas de seu conteúdo concreto. O que significa, exatamente, respeitar a vida, quando se negam as condições objetivas de existência?
“Reforma trabalhista, PEC dos Gastos, reforma da Previdência”, essas medidas que jogam “um contingente de cidadãos e cidadãs para uma espiral de pobreza”, estão na base do tal “respeito à vida” por onde tudo começa, e por onde começou o artigo que Marielle enviou aoJornal do Brasil – esse jornal recentemente ressuscitado em papel, numa iniciativa cheia de críticas, incertezas e suspeitas que não cabe aqui discutir, mas que se diferenciou dos demais no dia seguinte às manifestações de protesto que se espalharam pelo país. A edição, para quem tem memória, lembrou a do dia 12 de setembro de 1973, quando a censura da ditadura impediu manchetes ou fotos sobre o golpe no Chile de Allende, e o JB driblou brilhantemente a proibição com uma primeira página sem título, apenas com um texto em corpo maior, relatando o ocorrido, e com isso se destacou de todos os outros jornais.
JB valoriza – e valoriza-se com – as “últimas palavras” de Marielle, destacando a sua condenação à intervenção militar na segurança do Rio, que é, na prática, uma intervenção no estado. Entretanto, publica no rodapé uma ressalva que conduz ao editorial, onde defende a intervenção até mesmo como “forma de honrar a memória da vereadora”, que estaria equivocada: os beneficiários da medida seriam justamente “os que ela supunha vítimas”.
Os demais jornais cariocas incorporaram o discurso de protesto: O Globo manchetou “MARIELLE PRESENTE” em maiúsculas, os outros repetiram a indignação da vereadora ao denunciar mais uma morte atribuída à polícia: “Quantos mais terão de morrer para que essa guerra acabe?”
Em tese, a imprensa abraça uma causa que é de “todos”. No entanto, nos editoriais e nos espaços de colunistas, usa esse episódio para inverter a lógica do argumento da vereadora/militante executada e esvaziar sua causa, reforçando a atuação do governo federal: a morte de Marielle e seu motorista seria, para O Globo, “um símbolo contundente do descontrole a que chegou a segurança do Rio, situação de anomia que levou à intervenção federal”. Considerando que o Rio é um “laboratório” – como declarou recentemente o general responsável pela intervenção –, não custa imaginar o que pode acontecer às cobaias. Diante da “insana escalada de violência”, por que não a decretação do estado de sítio?
É a mesma operação discursiva que, em 2013, transformou uma reivindicação contra o reajuste das passagens de ônibus – uma pauta claramente de esquerda, que tinha o alcance mais amplo da luta pela melhoria do transporte público e, no fim das contas, pelo direito à cidade – num protesto contra a corrupção na política, rapidamente identificada ao governo federal, e resultou nas primeiras manifestações de massa de direita desde o golpe de 64, que explodiriam em 2015 e dariam sustentação popular à derrubada de Dilma Rousseff.
A história se repete
Protestos genéricos contra a “violência” têm esse poder alienante. Em 2001, na esteira do episódio do ônibus 174 – um cerco policial a uma suposta tentativa de assalto que resultou no sequestro dos passageiros, transmitido ao vivo por mais de quatro horas, e que acabou com a morte de uma refém e do próprio pretenso assaltante –, criou-se o movimento “Basta! Eu quero paz!”, que convocava para um ato público encampado por toda a mídia. Rara voz dissonante acolhida nos jornais, o historiador Joel Rufino dos Santos escreveu no Jornal do Brasil de 11/7/2001 um artigo no qual rejeitava participar daquela manifestação porque a considerava uma forma de preparar o espírito da população para “indultar os produtores da violência” e dizia que não participaria daquele ato justamente porque os violentos dissimulados, porém mais importantes, também estariam lá.
“Há os que sofrem a violência e os que a produzem. Estes têm interesse em esvaziar a violência do seu conteúdo concreto. Num golpe inconsciente, mas de mestre, mobilizam as vítimas para ato cívico, altamente emotivo, contra a violência. Gritam e fazem a população gritar “Basta!”. Com isso, dão à violência, de que são os produtores, um caráter abstrato. Eximem-se de qualquer responsabilidade. Os violentos são os outros. Na verdade, não são ninguém. Podem, portanto, ser demonizados – livrando a cara deles, os reais produtores de violência. Põem, no lugar da sua cara, a cara do pobre-coitado do ônibus 174”.
Hoje, a história se repete. No Jornal Nacional – que abriu sua edição de 15 de março com um editorial que reverberava a indignação dos “cidadãos de bem” –, o senador Jorge Vianna, do PT, aparecia para dizer que “nós não podemos estar nos dividindo, [discutindo] se a intervenção é boa ou não na área de segurança no Rio de Janeiro, eu queria uma intervenção no Brasil inteiro”. E o presidente Temer, como tantos outros políticos aliados, como tantos editorialistas e colunistas, diluía o assassinato de Marielle no caldeirão genérico da insegurança pública: “É inaceitável, inadmissível, como todos demais assassinatos que ocorreram no Rio de Janeiro, é um verdadeiro atentado ao Estado de direito e um atentado à democracia, por isso aliás nós decretamos a intervenção, para acabar com esse banditismo desenfreado que se instalou naquela cidade por força das organizações criminosas”.
A “afronta à democracia”, não por acaso, foi o título do editorial do Globo no dia seguinte.
Por isso é tão importante definir bem as coisas, nesse momento em que as emoções afloram e podem ser tão facilmente manipuladas. Ricardo Queiroz, mestre em Ciência da Informação que trabalha na Biblioteca Monteiro Lobato, em São Bernardo do Campo, resumiu exemplarmente a questão num post no Facebook:
“Marielle Franco acreditou na via política. Morreu porque se posicionou claramente na luta de classes, demarcou sua posição e sabia quais eram seus inimigos. Impossível despolitizar a sua morte.
Portanto, não é com niilismo, desqualificação da política e discurso difuso, que vamos fazer o combate àqueles que mataram Marielle.
Se até Temer se diz indignado pela morte da jovem, é fundamental o discernimento dessas indignações todas. Para que os responsáveis não se passem por indignados”.
Visto no: OBJETHOS